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Sensacionalismo, oportunismo e o imponderável

Transcrevo aqui a íntegra do artigo/editorial "Sensacionalismo, oportunismo e o imponderável", escrito pela jornalista e Editora-chefe da Revista Meio & Mensagem, Regina Augusto. Bastante oportuno, o texto remete a uma ampla reflexão sobre o que é sensacionalismo na cobertura jornalística de grandes catástrofes e campanhas de oportunidade na publicidade, tomando como caso prático o acidente da Tam. Vale a pena conferir:


"Um aviso de erro aos internautas na home page do Uol na quarta-feira, 18, no início da tarde, informava que uma foto — que instantes antes estava em destaque — fora retirada do ar pois se tratava de fotomontagem. A imagem em questão, enviada por um usuário como se fosse verdadeira, mostrava um homem pulando do prédio da Tam durante o incêndio provocado pela colisão do Air Bus da companhia na noite anterior. Nas horas seguintes à maior tragédia aérea do País, o Uol estampava em sua página a mensagem “Tirou fotos? Mande”, incentivando o leitor do portal a participar de alguma forma da cobertura do acidente. A partir do momento em que a polêmica imagem foi veiculada, uma série de internautas escreveu à ombudsman do Uol, Teresa Rangel, demonstrando indignação pela iniciativa do portal, considerada por muitos como sensacionalista, criando um clima de oba-oba em torno de um acidente da maior gravidade.

Na quinta-feira, 12, a Euro RSCG Brasil iniciou a divulgação de uma campanha de varejo para a Peugeot que tinha como mote exatamente nosso caos aéreo. No comercial, um ator parodiava a ministra do Turismo, Marta Suplicy, autora da frase infeliz que na peça virou “Relaxa e compra”. O filme saiu do ar no fim de semana. A agência chegou a alegar para o site do Clube de Criação de São Paulo que teria sido por um “pedido de Brasília”, informação que depois foi desmentida por ela própria. A Secom e a presidência da República negam qualquer intervenção na estratégia publicitária.

A continuação da campanha ainda brincava com o tema e sugeria às pessoas trocar o caos dos aeroportos pelo conforto de um automóvel da marca, com preços e taxas promocionais. Estreou na fatídica terça-feira, 17, à noite, no intervalo comercial do noticiário que

"O desastre da Tam não poderia ter sido considerado totalmente imponderável pelas autoridades. Uma assustadora mistura de negligência e omissão levou a situação a esse ponto lamentável e, a despeito da urgência dos acontecimentos, a postura do governo em torno da questão não dá sinais de mudança"

mostrava sem parar as imagens do acidente. O filme só foi retirado do ar na manhã do dia seguinte. A notícia que continha essa informação, colocada no MMonline na quarta-feira, foi a que recebeu o maior número de comentários de leitores na semana passada, a maioria deles criticando a falta de sensibilidade da agência e do cliente em relação à questão.

Esses fatos dão margem a uma ampla reflexão sobre o que é sensacionalismo na cobertura jornalística de grandes catástrofes e campanhas de oportunidade na publicidade. Mas serviram aqui apenas de pretextos para registrar a perplexidade acerca de um assunto inevitável que maculou a semana passada de dor, revolta e indignação. Uma semana que começou com o brilho dos Jogos Pan-americanos, mesmo com a polêmica vaia, e que tinha tudo para minimizar o momento atual de crise, principalmente no Rio de Janeiro. Infelizmente, essas imagens ficaram ofuscadas nas imprensas nacional e internacional.

O desastre da Tam não poderia ter sido considerado totalmente imponderável pelas autoridades. O inesperado neste episódio foi sua ordem de grandeza. No dia anterior à tragédia, houve um outro acidente na mesma pista de Congonhas com uma aeronave da Pantanal. Felizmente, esse não computou mortos ou feridos e tudo continuou funcionando normalmente, mesmo com uma série de indícios de que algo muito grave estava para ocorrer a qualquer instante.

Uma assustadora combinação de negligência e omissão levou a situação a esse ponto lamentável e, a despeito da urgência dos acontecimentos, a postura do governo e das companhias aéreas em torno da questão não dá sinais de mudança".


Fonte: Por Regina Augusto, in www.meioemensagem.com.br

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