Pular para o conteúdo principal

"Marketing pessoal em si é nada"

Estudar sempre e trabalhar melhor. Estas são duas das diversas recomendações que a presidente da Russel Reynolds Associates no Brasil, Fátima Zorzato, dá aos profissionais de marketing, que devem aplicar seus conhecimentos para desenvolverem produtos inovadores e bons indicadores de retorno de investimento. Tudo isso, com muita sustância, pois quem não tem conteúdo pode cair no que ela chamou de marketing pessoal negativo: tem imagem, mas é oco por dentro.

Na última semana, durante o III Fórum de Marketing de Curitiba, que reuniu mais de 800 pessoas, Fátima mostrou a visão de um headhunter sobre a carreira do profissional de marketing. Em entrevista ao Mundo do Marketing, a executiva explicou como este profissional deve lidar com a pressão por resultados. “Ele tem que cair na real que isso é realidade da vida”, afirmou a psicóloga, para em seguida explicar o que fazer para obter melhores resultados e dar dicas valiosas para ter sucesso, para jovens e experientes profissionais.

Qual deve ser o posicionamento do profissional de marketing dentro de um mercado cada vez mais competitivo e que exige dele novas formas de trabalhar?
Não muda muito como um profissional de marketing e de outros setores devem se preparar para esta realidade. O que você tem é a necessidade de estar preparado tecnicamente, ter visão de mundo e dominar outras línguas, ainda mais neste mercado em que o profissional deve identificar o que é feito além das fronteiras em que se vive. Tem que ser alguém que não se prepara apenas para o que ele faz uso no dia a dia, mas para tudo, como pessoa e como profissional. Qualquer executivo deve saber que ter as condições básicas não basta para vencer na vida. Tem que trabalhar e se preparar mais do que a média.

A senhora falou em trabalhar mais...
Não necessariamente, mas sim trabalhar melhor que os outros, não em horas, mas em resultado. Tem que saber gerenciar as prioridades. Tem gente que tem quatro coisas para fazer e escolhe justamente a que é mais fácil ou faz o básico. Quem faz o básico pode atender a expectativa, mas quem agrega um valor adicional faz além da expectativa. A grande diferente é o que se faz mais do que o esperado no mesmo período de tempo. Não estou fazendo apologia ao hard worker. Estou fazendo apologia a quem é diferenciado. E você tem momentos na carreira. Para as pessoas que estão em início de carreira, pode ser que trabalhar operacionalmente é o esperado. Já quando você está na gestão, na direção, é esperado que você enxergue o futuro e tenha idéias novas.

Quando a senhora fala em visão, como os profissionais de marketing podem desenvolver esta característica?
Tem que saber ler a realidade que o cerca. Quando vai lançar um produto, ele tem que saber ler a demanda. Às vezes você vê pessoas brilhantes fazendo produtos antes da hora que não vendem e encalharam não porque são criativos, pelo contrário, foram criativos demais. O trabalho de pesquisa, além de muitas coisas simples e óbvias que podem ser feitos também ajuda. Do mesmo na relação pessoal. É preciso buscar feedback com o chefe e com sua equipe. Tem muitas coisas simples que as pessoas ouvem, mas não registram. Quando você tem um retorno, às vezes a primeira impressão pode ser ruim, mas a pergunta de como é que posso melhorar é o jeito mais econômico e efetivo para melhorar. Outros meios é lendo mais e melhor e buscar como decodificar o comportamento das pessoas, principalmente para quem trabalha em marketing porque um comportamento pode ter "n" interpretações. Uma outra coisa é fazer exercícios e atividades que podem ser usadas como lazer ou distencionamento para que ele possa fazer as leituras do mundo um pouco mais corretas. Tem gente que é brilhante, mas que está sempre tenso e só consegue render tanto quanto aquele que é médio. Falta leveza para conseguir enxergar as coisas. É mais fácil parar, sair para almoçar, dividir com alguém, escrever o que pensa, trocar idéias e buscar pessoas que sejam fontes de insight.

Como o profissional de marketing deve lidar com a pressão por resultados?
Ele tem que cair na real que isso é realidade da vida. E depois tem que utilizar o princípio básico de administração, que tem planejamento, gestão, controle e feedback. Tem que ter indicadores para tudo que é feito, comunicar os resultados e identificar de que jeito ele pode ser melhor, tanto na escolha de onde vai gastar o dinheiro, quanto na escolha dos indicadores para ver se este investimento deu certo. Marketing tem uma vantagem que faz coisas que podem ser tangibilizadas.

Dentro do marketing há o chamado marketing pessoal. Qual a opinião da senhora sobre este assunto?
O Marketing pessoal em si é nada. Ele pode ser uma coisa negativa se a pessoa tem mais papo do que resultado ou pode ser positiva se a imagem desta pessoa é grande e todo mundo olha o que ele fez e credita os resultados a ele. Acho que o marketing espuma dura o tempo de acordo com o nível intelectual dos interlocutores. Se for só feito de espuma e os interlocutores forem bons, ele facilmente não terá sucesso. Contra fatos não têm argumentos. Não acredito em marketing pessoal que dure, em quem tem imagem maravilhosa e depois não mostra resultados. São pessoas que aparecem e desamparassem com a mesma rapidez. A posição de marketing em si inspira cuidado porque só de estar na empresa A ou B faz com que as pessoas a sua volta te dêem bola.

Como um jovem profissional deve trilhar a sua carreira, não só pelo cargo, mas pelos desafios que ele vai encontrar?
Tem que olhar com quem ele vai trabalhar e o que pode aprender. Agora, fazer o quê e ganhar quanto é conseqüência. Eles devem ir para onde são escolhidos. É muito fácil para as pessoas que não são escolhidas dizerem que existe indicação. Mas existe muito mais quem não faz a lição de casa e quem não trabalha direito. Tem muita gente que quer saber o que a empresa pode fazer por ele e não o que ele pode fazer pela empresa e depois, em reciprocidade, receber. Nos primeiros lugares de trabalho, na verdade, a empresa investe muito mais do que recebe. A minha recomendação é não se preocupar em fazer perguntas bobas como qual carreira vai ter na empresa porque isso é conseqüência de resultado de trabalho e segundo olhar com quem vai trabalhar e depois o resto vem. Quem trabalha tem resultado.

Sempre ouvimos que um bom profissional de marketing deve ter uma visão holística e liderança. Como ele pode desenvolver essas características?
Não tem outro jeito de desenvolver isso se não estudando, lendo, sendo curioso, tendo uma cultura geral melhor do que a média, sendo profundo e analítico. Não tem segredo, ninguém nasce com características de liderança. Vai se desenvolvendo. Ninguém nasce global e falando diversos idiomas.

Qual a sua opinião sobre o assunto? Deixe aqui seu comentário.

Fonte: Por Bruno Mello, in www.mundodomarketing.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Conselho Federal de Marketing?

A falta de regulamentação da profissão de marketing está gerando um verdadeiro furdunço na Bahia. O consultor de marketing André Saback diz estar sendo perseguido por membros do Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA/BA) por liderar uma associação – com nome de Conselho Federal de Marketing e que ainda não está registrada – cujo objetivo, segundo ele, é regulamentar a profissão. O CRA responde dizendo que Saback está praticando estelionato e que as medidas tomadas visam a defender os profissionais de administração. Enquanto André Saback, formado em marketing pela FIB - Centro Universitário da Bahia -, diz militar pela regulamentação da profissão, o Presidente do CRA/BA, Roberto Ibrahim Uehbe, afirma que o profissional criou uma associação clandestina, está emitindo carteirinhas, cobrando taxas e que foi cobrado pelo Conselho Federal de Administração por medidas que passam até por processar Saback, que diz ter recebido dois telefonemas anônimos na última semana em tom de ameaç