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Geração 90 – Um novo conflito de gerações

Uma das palestras mais aguardadas do ENA 2007 revelou novidades sobre o mundo dos jovens e a forma com que eles utilizam a tecnologia disponível. Apresentada por Diva Oliveira, sócia-titular da Recherche; e Ione de Almeida, sócia da Almeida Associados, a palestra “Geração 90 – Um novo conflito de gerações” mostrou como os nascidos no ano de 1990 (que hoje têm entre 16 e 17 anos) relacionam-se com as mídias e, por meio delas, com o mundo ao seu redor; bem como os valores dessa geração, quais são seus universos de referências e como eles estabelecem contrato ente si, com as marcas e a sociedade em geral.

De acordo com a pesquisa, há um novo conflito de gerações, mas que acontece de forma não muito explícita, porém, é igualmente revolucionário às gerações anteriores. Para se compreender o que acontece com os jovens de hoje, as pesquisadoras dividem as diversas gerações a partir da segunda guerra mundial, com os “Baby boomers” (nascidos entre 1945 e 1964), a “Geração X” (nascidos entre 1964-1982), a “Geração Y” (nascidos entre 1982 e 1991) e a “Millenium” (nascidos a partir de 1990).

Esta última geração, a “Millennium”, objeto do estudo, é composta por jovens que nasceram e cresceram junto com a internet e, portanto, apresentam toda uma série de características próprias. Hoje, no Brasil, são aproximadamente 6,7 milhões e representam 3,5% da população, segundo estimativas do IBGE. Cerca de 45% não moram com os pais, 88% estudam e 22% trabalham.

”É uma geração que convive com pais muito permissivos, que se comportam de forma extrema em relação aos filhos: alguns são ausentes, outros são tão envolvidos que decidem e agem pelos filhos. Estes jovens têm acesso a muitas informações. Muitos dos pais, até certo ponto, não exercem autoridade, além de se apresentarem como adultos que querem permanecer jovens a todo custo, pela extrema valorização social da juventude. Essa situação acaba confundindo um pouco estes adolescentes quanto a modelos, parâmetros, regras, o que concorre para que o status de adulto não seja aspirado, como já foi em outras gerações”, explicou Diva Oliveira na apresentação.

Desta forma, na ausência de um modelo adulto, os “Milleniums” criam os seus próprios códigos, sendo o mundo virtual o local privado ideal para os jovens e seu grupo. Fica estabelecido um novo conflito de gerações, só que, desta vez, mais surdo, menos explícito do que o de épocas passadas, como, por exemplo, nos anos 60 e 70, quando os jovens opunham-se abertamente a toda e qualquer autoridade paterna e da sociedade.

O que envolve este jovem hoje em seu universo é a alegria: são entusiasmados e encaram de forma positiva a fase que estão vivendo. Uma das características que mais chama a atenção nesses jovens é que são “multi-tarefas”, ou seja, estão sempre praticando diferentes atividades ao mesmo tempo (conectados à internet, ouvindo música, conversando no MSN, assistindo TV, comendo etc).

”É importante frisar que, como os jovens de qualquer época, estão em fase de transição e, portanto, de contradição”, avisa Diva. “Estão em busca de reconhecimento e aceitação, só que vivendo em um meio completamente novo em termos de comunicação e interatividade, ou seja, em contato com o mundo através da internet e, sobretudo, do celular. Estas duas tecnologias convivem com eles o tempo todo. O celular é quase que a “segunda pele” do jovem moderno, que dorme e acorda plugado no aparelho”, completa.

A internet significa comunicação e, sobretudo, lazer: é a interação dos jovens com sua rede social. Segundo os dados de um outro estudo, realizado pelo LatinPanel, 66% desses jovens ficam até três horas diárias plugados na rede. A nova palavra de ordem é a “colaboração”, ou a produção do conteúdo. Trata-se de uma interatividade diferente, por ser pró-ativa.

Quanto ao relacionamento dos jovens com as mídias, o levantamento mostrou que há maior envolvimento com internet, celular, TV e rádio, enquanto eles preferem se distanciar de revistas e jornais. A penetração dos meios de comunicação nesta faixa etária é maior que a média nacional em internet (50%, contra 34%), rádio (90%, contra 83%), revistas (52%, contra 45%) e TV (99%, contra 97%). Os jornais perdem espaço, pois apenas 29% entre os jovens de 16 ou 17 anos se interessa por eles, contra 37% da média nacional.

O campo escolhido para a realização da pesquisa foi São Paulo, durante o mês de julho de 2007, com jovens do sexo feminino e masculino das classes A, B e C.

No final, além dos resultados esperados, ficou constatado que o impacto da tecnologia na vida desses jovens é imenso e a realidade gerada por ela é irreversível, com conseqüências sobre diversas categorias e as faixas de idade acima e abaixo desse target simbólico – pois são jovens que cresceram junto com o fenômeno da internet.

A demanda pela interatividade é elevada e pouco tem a ver com o que se convenciona denominar de “diálogo” na comunicação contemporânea. A responsabilidade social e ética também se destacou entre as exigências dessa geração que, no entanto, nem sempre faz o que espera dos mais velhos e da sociedade estabelecida. “Eles se dizem mais politicamente corretos no discurso que na prática”, finaliza Diva.


Fonte: Por Felipe Cirelli, in www.portaldapropaganda.com

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