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O papel da Comunicação Organizacional no futuro das gerações

No último sábado, dia 1° , o Diretor-Geral da ABERJE, e professor Doutor da ECA-USP, Paulo Nassar, foi premiado durante o 30° Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (INTERCOM). Nassar obteve o reconhecimento como "amigo das Relações Públicas" da 2ª Edição do Prêmio das Relações Públicas do Brasil.

Na segunda edição, o Prêmio agraciou profissionais em quatro categorias - mercado, academia, in memorian e revelação -, além de homenagear outros profissionais com distinções especiais, entre eles a Professora Dra. Margarida Kunsch, reconhecidamente uma das mais respeitadas profissionais de relações públicas do Brasil, que recebeu a Medalha 2 de Dezembro, honraria máxima da premiação.

A cerimônia foi apresentada pelos coordenadores da campanha nacional de valorização da profissão de relações públicas e diretores do Portal RP-Bahia, Márcia Carvalhal e Marcello Chamusca.

Confira a íntegra do discurso que Paulo Nassar proferiu na solenidade:


Amigo. Ou, mais que amigo, de todas as horas

É um prazer muito grande estar aqui hoje, entre muitos amigos, principalmente para receber esta honrosa distinção, que materializa, reconhece e distingue tantos anos de dedicação, trabalho e paixão pela atividade, o que me leva a considerar a hipótese de ser mais do que amigo!

As Relações Públicas no Brasil ganham, ao longo dos anos, espaço e importância. Têm conquistado, por meio do trabalho competente de profissionais brilhantes, espaço estratégico junto à alta direção das organizações. Somam-se a isso, outras – e várias – iniciativas que reforçam o seu avanço. Entre elas, há 40 anos, em 1967, nascia em São Paulo a ABERJE, então Associação Brasileira de Editores de Revistas e Jornais de Empresa com uma nobre missão e presidida por um visionário: Nilo Lucchetti, que soube reunir outros profissionais de Relações Públicas, que iriam fazer a história da Comunicação Organizacional no Brasil, entre eles, por exemplo, João Alberto Inhanez, que até 2006, presidiu o Conselho Federal de Profissionais de
Relações Públicas.

Em 1989, a Associação manteve a sigla já consagrada e passou a se chamar Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. No final dos anos 1990, registramos e assumimos também o nome de Associação Brasileira de Comunicação Organizacional.

Nos últimos anos a ABERJE trouxe ao Brasil especialistas, com notório saber, na área como Abraham Nosnik, México; Ângela Sinickas, EUA; Cees van Riel, Holanda; Diego Dilenberger, Argentina; Don W. Stacks, EUA; James Grunig, EUA; Javier Puig, Espanha; Juan Costa, Espanha; Paul Thompson, Inglaterra; Richard Wolf, EUA; T. J. Larkin, EUA; Thom Gillespie, EUA; Vitor Baltasar, Portugal; e todos os professores do Curso Internacional ABERJE, criado em parceria com a Syracuse University de Nova York, EUA, centro de excelência em Relações Públicas norte-americano.

A professora dra. Margarida M. Krohling Kunsch, em uma de suas obras, na qual reconstitui ricamente a história da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas traz como referência a história da ABERJE e estabelece os Prêmio “Amigo das Relações Públicas” sucessivos enfoques pelos quais a comunicação organizacional passou desde a década de 1950 até a década de 1990.

Na mesma época a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo instalava-se seu curso de Relações Públicas. Ao longo destes últimos 40 anos, o modo de viver mudou muito. E continua a se modificar, em clara fase de transição, de choque de valores. Este cenário nos coloca diante de desafios trazidos pela complexidade do mundo contemporâneo, que exige cooperação e colaboração entre as pessoas e preconiza a postura de promover e facilitar os relacionamentos – o diálogo - entre as pessoas. Ou seja, no nosso campo, as habilidades para este trabalho devem ser evidentes na alta direção das organizações suportadas e referendadas por comunicadores, cujo papel torna-se relevante, sobretudo na mediação.

Não há desenvolvimento empresarial sustentável e duradouro sem comunicação e não haverá futuro se não houver uma mudança no modo de se produzir e consumir. Afinal, tudo o que fazemos tem um impacto na natureza, para o bem ou para o mal, com reflexo instantâneo ou futuro nas condições de vida de quem vem por aí. Neste cenário, de relacionamentos ativos, em uma sociedade globalizada, mais informada e participativa, o comunicador dentro das organizações ganha relevância. Daí a necessidade de mediar as relações, despertar consciências, informar em principalmente, educar.

Poucas profissões no Brasil se consolidaram e amadureceram com a rapidez vivida pela Comunicação Organizacional. A tecnologia tornou disponíveis ferramentas novas, interativas, um novo entendimento de tempo e espaço, interligou o mundo e forçou, felizmente, o comunicador a deixar de ser um repetidor de mensagens, preocupado com a mídia adequada, para se ater ao conteúdo estratégico da mensagem, a análise das suas conseqüências e a qualificação e a interpretação de uma massa impressionante de informação disponível.

O deslocamento da atividade de Comunicação dentro das organizações para o enfoque estratégico beneficiou não só os próprios profissionais da área, os puros, mas os de áreas afins e complementares, oriundos de outras disciplinas das ciências sociais aplicadas. Este acolhimento natural, necessário e Prêmio “Amigo das Relações Públicas” inevitável, gerou o que se convencionou chamar de “mestiçagem”, que simboliza a força do próprio povo brasileiro. Desta mestiçagem de saberes, emergiram enormes ganhos para as empresas, especialmente àquelas que souberam romper barreiras culturais viciadas no mecanicismo e na visão utilitarista de tudo que as cerca.

Nelas, o profissional de Comunicação conquistou ouvidos, que o escutam e assento estratégico junto a alta direção. Em compensação, teve que aprender com o passado e mirar o futuro, ter uma visão complexa e abrangente dos processos organizacionais e da política e, sobretudo, ser obrigatoriamente cada dia mais culto, sob o risco de não sobreviver, diante desta “nova configuração” que passou a caracterizar o comunicador.

Um bom exemplo são os incontáveis casos de organizações incapazes de conciliar discurso e prática ou que dão uso mercadológico ao que deveria ser só e tão-somente social. Nestes ambientes o comunicador tem um desafio extra: arriscar-se em defesa da verdade, para resguardar intacta a boa reputação da organização.

Hoje, o comunicador além da necessidade de ser mais culto, estar mais apto a resolver questões cada vez mais complexas, deve ser capaz de estabelecer inúmeras interfaces ao mesmo tempo; deve ter uma postura crítica, porém justa, construtiva e um apurado senso de realidade e equilíbrio. O comunicador, apesar de exercer seu papel com técnica, deve ser dotado de um olhar que o distingue: saber olhar o mundo com afeto, independência, honestidade e firmeza, suficientes para defender seus pontos de vista, fortalecer a democracia e zelar pela liberdade.

O documento A Comunicação Organizacional frente ao seu tempo, editado pela ABERJE, descreve a complexidade atual da profissional e o conhecimento que ela exige:
“Há quarenta anos, em alguns cursos da ABERJE se tratava da gramatura do papel. Hoje, o que está em jogo é o nosso papel na ‘dramatura’ do mundo. A formação do bom profissional que conhece seus métodos, suas técnicas, foi um grande êxito nosso.

Nunca houve profissionais de tanta qualidade, nem tanto avanço técnico. Mas o tempo
presente nos trouxe questões éticas que não podemos ignorar e que no Prêmio “Amigo das Relações Públicas” interpelam como seres humanos. No drama de nossos dias, que papel nós, comunicadores, vamos assumir, uma vez que somos profissionais capacitados ao mesmo tempo em que simples seres humanos, diante dos grandes desafios sociais, econômicos e ambientais, que são a miséria e o aquecimento global?” (Nassar, Janine Ribeiro e Guttilla, 2007, p.5).

O jogo das palavras gramatura e “dramatura” aponta a necessidade de atuação além da técnica do comunicador organizacional: um profissional que compreende, diante dos novos dilemas organizacionais e da sociedade, o processo de comunicação muito próximo de um processo de educação. Ao comunicar e dialogar com a sociedade sobre as questões complexas da “dramatura” do mundo, o comunicador organizacional assume a identidade do educador.

Não é fácil ser comunicador. No fundo, é uma bagagem que se completa ao caminhar, que se dá na prática, como lembra Eugênio Bucci, ex-presidente da Radiobrás ao afirmar que “as escolas ainda não refletem a realidade e as necessidades do mercado”.
A conquista do espaço estratégico na organização pelo comunicador moderno não resulta de uma reserva. Ela se dá no sentido de mão dupla, a partir do momento em que empresa e profissional rompem estereótipos, barreiras, preconceitos, que possibilita a junção do discurso e da prática e o pleno exercício da responsabilidade histórica empresarial, a “mãe de todas as responsabilidades: comercial, legal, ambiental, cultural, social etc.”

No mundo pautado pelos relacionamentos, o consumidor fortalecido e consciente de seu poder impõe condições para estabelecer uma relação regular, saudável, duradoura e benéfica. Neste contexto entram questões de natureza econômica, social, ambiental, histórica e cultural, que são observadas ou percebidas pelo consumidor nas atitudes da organização, que passou a ser cobrada pela coerência e responsabilizada por seus atos. É neste âmbito que o comunicador atua, sem perder também de vista os objetivos da empresa, seu desenvolvimento e o interesse dos seus acionistas.

A gestão da comunicação nas organizações e a mediação dos relacionamentos entre diferentes segmentos da sociedade abrem horizontes e podem ajudar o Prêmio “Amigo das Relações Públicas” construir um mundo em condição de receber bem nossos netos e os filhos dos nossos netos.


Fonte: Por Paulo Nassar, in www.aberje.com.br

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