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Um jeito agnóstico de ver certas coisas

A palavra “agnóstico” surgiu duas vezes na tarde de quarta-feira passada durante os painéis do MaxiMídia 2007, realizado no WTC, em São Paulo, pelo Grupo M&M. A primeira citação foi feita por Pedro Cabral, presidente da AgênciaClick e da Isobar para a América Latina: “Precisamos ser mais agnósticos na escolha dos canais”, referindose, em meio ao debate sobre a Hora da Verdade da criação, à essencial generosidade estratégica que acompanha o planejamento de mídia multicanal. Embora não fosse exatamente sua praia — estava acompanhado de Alexandre Gama, Átila Francucci, Sergio Valente e Silvio Matos —, era ele próprio uma demonstração literal do fim das barreiras entre funções estratégicas dentro das agências.

A segunda referência ao vocábulo foi de Scott Donatton, publisher da Advertising Age, ao proferir a palestra sobre o conceito que concebeu há cinco anos: Madison & Vine, a convergência entre publicidade e entretenimento. “Marqueteiros inteligentes são agnósticos em relação à plataforma a ser usada”, disse.

Para os agnósticos, não é possível provar racionalmente a existência de Deus, e é igualmente impossível comprovar a sua inexistência. Logo, essa questão constitui um labirinto sem saída e não deve ser colocada sequer como problema, já que nenhuma necessidade prática nos impele a realizar tal tarefa estéril. O agnosticismo separa aqueles que acreditam que a razão não pode penetrar o reino do sobrenatural daqueles que defendem a capacidade da razão de afirmar ou negar a veracidade da crença em Deus.

Metáfora interessante e bastante provocativa.

"Verdades absolutas dão lugar a possibilidades antes impensáveis, mas nem por isso menos admissíveis. Novos canais de comunicação, somados à fragmentação de audiência e ao aumento do poder do público, geram uma equação complexa cuja solução carece de processos de criação e de gestão inovadores!"

Na prática, significa que verdades absolutas dão lugar a possibilidades antes impensáveis, mas nem por isso menos admissíveis. Novos canais de comunicação, somados à fragmentação de audiência e ao aumento do poder do público, geram uma equação complexa cuja solução carece de processos de criação e de gestão inovadores.

Reflexões dessa natureza reverberaram durante o MaxiMídia, que mais uma vez conseguiu vencer o desafio de se superar com um conteúdo de primeira linha e uma pluralidade de temas que fogem do óbvio. Alguns exemplos dessa diversidade que tem tornado o evento um destino obrigatório para os profissionais do mercado foram a inspiradora apresentação de Barbara Kennington, da Worth Global Style Network (WGSN), mostrando que o resgate de valores e antigos hábitos é ironicamente uma tendência atual de consumo; o entusiasmo de Fábio Barbosa, presidente do Real/ABN Amro, ao dizer que sustentabilidade não é diferencial, mas sim uma questão de identificação e valor corporativo que produzem resultado e lucro; e a visão de Tim Love, do Omnicom Group, sobre a publicidade como um catalisador das mudanças sociais e econômicas no mundo globalizado. O encontro também marca estrategicamente o início do período de planejamento para o ano seguinte, e nada melhor do que pensar em novos projetos municiados de reflexões e considerações inteligentes — e, por que não, agnósticas.


Fonte: Por Regina Augusto, in www.meioemensagem.com.br

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