Pular para o conteúdo principal

Como preservar a imagem em tempos de crise corporativa

Como todo super-herói que se preza, o executivo bem-preparado nunca deve desvestir a camisa de sua carreira pessoal, que deve estar sempre impecável, sob a camisa da empresa que veste no momento e que, claro, defende com todo o afinco. Não se trata de deslealdade, mas de sobrevivência, pois ter uma carreira bem azeitada pode ser a melhor, ou talvez única, forma de sobreviver a uma grande crise na empresa, seja ela de origem financeira, tecnológica ou legal.

"Hoje, há a tendência de se ter uma dissociação entre a pessoa e a empresa", diz Rogério Martins, sócio-diretor da Persona Consultoria, e autor do livro Reflexões do mundo corporativo. "Afinal vivemos em uma sociedade na qual o importante é a imagem pessoal, os cinco minutos de fama. Sucesso de programas de TV como o Big Brother mostram isso. A situação não é diferente no mundo corporativo", afirma.

"O executivo precisa ser reconhecido no mercado por ele mesmo e para isso precisa agregar valor ao currículo, se reciclar, cuidar do networking - contatos são fundamentais em época de crise." O consultor alerta que a situação pode ficar muito difícil. "Veja o atual caso envolvendo a Cisco. Presidente e diretores que estão tendo muita notoriedade na mídia podem, em casos como este, ter mais dificuldade para voltar ao mercado, mesmo com uma assessoria de imagem."

José Carlos Aguilera, sócio-diretor da Galeazzi & Associados cita uma pesquisa realizada por Sidney Finkelstein, autor de Por que os executivos inteligentes falham que, durante seis anos, analisou o caso de 51 altos executivos que estiveram envolvidos com empresas em crise. Apenas um continuou sua carreira. "O alto comando é solitário e exigente. A situação tende a ser mais fácil para o escalão médio, mas o grande executivo, quando toma uma decisão e fracassa, não consegue recuperar sua carreira."

Em uma crise, se a empresa atingir um grau que ameaça sua sobrevivência e haja um grau de ruptura interna muito grande, a melhor solução, tanto para a empresa como para as carreiras dos seus próprios executivos, pode ser a contratação de uma consultoria externa." Aguilera gosta de dividir o mercado atual em dois blocos; um formado por empresas tradicionais, produtora de bens físicos, tangíveis e de baixa tecnologia e outro de empresas da nova economia, de alta evolução tecnológica, produtora de conhecimento, idéias, bits.

Elmano Nigri, presidente da consultoria Arquitetura Humana , também defende a contratação de uma consultoria externa, "para trazer pessoas que não estão emocionalmente envolvidas e que podem ter uma visão mais global do processo, e também por que no auge da crise sobram poucos". Ele lembra que antes de seguir atrás de novas metas, o executivo tem que saber gerir a crise da empresa em que está. "A doença da empresa pode ser também do seu capital humano e os dois precisam ser tratados."

Para Beatriz Lacombe, professora de gestão de pessoas e orientação de carreiras da FGV, durante uma crise, a dissociação com a imagem da empresa pode não ser tão fácil, porque as pessoas tendem a ter uma identificação muito grande quando tudo anda bem. "Há um certo orgulho do que chamo um ‘sobrenome corporativo’, quando se trabalha em uma grande empresa. Este sobrenome empresarial leva a uma transferência de imagem entre a empresa e o executivo, o que pode prejudicar a carreira na hora da crise", lembra.

Segundo a professora, o que ajuda muito é ter um bom networking. "Pode ser dos clientes, fornecedores, da rede de relacionamento social construída, que virá uma nova oportunidade. Gosto de dar como exemplo o Michael Porter, autoridade mundial em estratégia competitiva e autor de alguns dos maiores best-sellers internacionais na área. Não importa onde ele esteja dando aula, o brilho é dele, resultado da carreira que ele construiu. Devemos pensar em nossa carreira assim."

De acordo com a headhunter Karen Paroli, sócia-diretora da Career Center, "o executivo deve considerar a sua carreira como o seu negócio próprio, que nunca deve ser descuidado ou colocado em riscos desnecessários". Para isso, ela aconselha a quem detectar algum problema sair o mais rápido possível e, voltar ao mercado antes de a crise ter se instalado. Karen diz que o envolvimento direto em um escândalo acaba com a carreira de um executivo. "Ninguém contrata sem avaliar ética e competência."

Mariá Giuliese, sócia da Lens & Minarelli, lembra que o profissional receia, é claro, que a imagem que a empresa adquire no momento de crise se reflita em como o mercado vá vê-lo quando sair à procura de uma nova oportunidade. "O mercado vai vê-lo em função da posição em que está no ponto nuclear da crise, e saberá avaliar. Veja o caso do Banco Santos, muitos executivos se recolocaram". Para Mariá "às vezes o mais importante não é como o mercado o vê mas como o profissional se vê. Caso se sinta culpado, inseguro, não vai saber se colocar e isso vai atrapalhar suas futuras negociações".


Fonte: Por Regina Neves, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Conselho Federal de Marketing?

A falta de regulamentação da profissão de marketing está gerando um verdadeiro furdunço na Bahia. O consultor de marketing André Saback diz estar sendo perseguido por membros do Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA/BA) por liderar uma associação – com nome de Conselho Federal de Marketing e que ainda não está registrada – cujo objetivo, segundo ele, é regulamentar a profissão. O CRA responde dizendo que Saback está praticando estelionato e que as medidas tomadas visam a defender os profissionais de administração. Enquanto André Saback, formado em marketing pela FIB - Centro Universitário da Bahia -, diz militar pela regulamentação da profissão, o Presidente do CRA/BA, Roberto Ibrahim Uehbe, afirma que o profissional criou uma associação clandestina, está emitindo carteirinhas, cobrando taxas e que foi cobrado pelo Conselho Federal de Administração por medidas que passam até por processar Saback, que diz ter recebido dois telefonemas anônimos na última semana em tom de ameaç