Na madrugada de 14 de abril de 1912, uma série de erros levou o Titanic - então o maior objeto móvel já construído pelo homem - a naufragar, depois de chocar-se com um iceberg, a mais de 1,4 mil quilômetros do porto de Nova York. No mercado empresarial, a falência de muitos gigantes pode ser comparada ao naufrágio mais famoso de todos os tempos. E em todos os casos, da mesma forma que no Titanic, a causa da ruína não se limitou a apenas um iceberg, mas a diversas decisões equivocadas.
A analogia é feita pelo professor Alexandre Luzzi Las Casas, que ontem à noite ministrou palestra no Instituto Nacional de Pós-Graduação (INPG), em São Paulo, com o tema "Marketing Titânico - Um estudo de empresas brasileiras que naufragaram". Entre as falências abordadas estão as de empresas como Encol, Iridium, Bloch Editores, Arapuã, Mesbla, Trol, Mappin e G. Aronson e ainda os casos de Sharp e KFC, que suspenderam suas atividades no Brasil. "No caso do Titanic, foram várias razões que fizeram o navio afundar. E entre as empresas analisadas também: um conjunto de coisas fez com que elas falissem", comenta Las Casas.
O especialista explica que o ambiente empresarial se equivale ao oceano, com toda a sua imprevisibilidade. Desta forma, assim como as embarcações em alto mar enfrentam intempéries (tempestades, icebergs, etc.), as empresas no mercado também estão sujeitas a adversidades e variáveis políticas, sociais, econômicas, culturais e concorrenciais, entre outras.
Com cerca de 286 metros de extensão (quase três campos de futebol oficiais), 28 metros de largura e 10 andares de altura, o Titanic partiu da cidade de Southhampton, na Inglaterra, no dia 10 de abril, com destino a Nova York. Construído com tecnologia de última geração para a época, o navio levava o título de "insubmergível", graças à divisão de seu casco em 16 compartimentos, separados por anteparas hermeticamente fechadas por portas à prova d’água. No dia do desastre, transportava 2.223 pessoas, das quais 1,5 mil morreram no gélido Atlântico Norte.
Conforme Las Casas, a grandiosidade do Titanic e a tecnologia geraram na tripulação um sentimento de que o navio seria imune a qualquer problema e que nunca, em qualquer hipótese, afundaria. "Eles (tripulantes) ficaram relapsos em certos aspectos. Quando entrou aquele grande número de clientes no navio, eles não se importaram que havia mais pessoas do que botes salva-vidas", conta.
No campo empresarial, é mais ou menos o que acontece com grandes empresas, que acreditam que, por serem gigantes e terem suas marcas consagradas, nada pode lhes afetar. "Elas acham que podem impor a sua cultura em qualquer lugar", afirma Las Casas, citando os casos de dois grandes fracassos, em sua opinião: o da montadora Mercedes-Benz, ao introduzir o modelo Classe A no Brasil sem qualquer estudo prévio ou adaptação ao mercado brasileiro, e o da Disney, ao criar a EuroDisney dentro dos mesmos moldes culturais do parque existente nos Estados Unidos, sem considerar os padrões culturais franceses.
Outro aspecto apontado é o de que, assim como em um barco, onde as pessoas permanecem longos períodos de tempo, também "há vida" nas empresas. "Os funcionários acabam fazendo uma vida dentro da organização", diz Las Casas. "Hoje, com o grande número de mulheres nas corporações, há mais relações amorosas e uma série de outras relações que antigamente, em um mercado predominantemente machista, não havia."
Neste sentido, diz o professor, as empresas atuais devem se preocupar cada vez mais com o que chama de "sociologia organizacional". A idéia é fazer com que não se desperdice internamente a energia que deveria ser despendida no mercado. "A implantação de novas ferramentas suga muita energia interna das organizações. Assim, as empresas acabam se afastando muito do mercado, porque toda a energia é gasta internamente."
Segundo o professor, as empresas precisam estar atentas para eventuais "icebergs" em seus caminhos e, mais do que isso, ter estruturas ágeis, capazes de reagir rapidamente diante da iminência de um desastre. "As empresas grandes em tese são as que teriam mais facilidade em se adaptar às variáveis econômicas, políticas, sociais e empresariais", explica Las Casas. Entretanto, nem sempre é assim que acontece. "Elas (companhias) têm de fazer ajustes, mas algumas são tão grandes que não têm a rapidez necessária para fazê-los e acabam quebrando. As empresas menores, em alguns casos, são mais ágeis."
Na opinião de Las Casas, mesmo nos casos em que o fim parece próximo, a última esperança da empresa para evitar o naufrágio total é uma equipe motivada. O exemplo clássico é o dos músicos, que no filme Titanic permanecem tocando, como se nada estivesse acontecendo, enquanto o resto da tripulação corre de um lado para o outro, tentando escapar da fúria do mar. "Quando você tem uma empresa afundando, que está em dificuldade, todo mundo tenta se salvar, manda o currículo para outros lugares e a empresa afunda mesmo", diz o professor. "Se uma empresa quiser se recuperar, precisa ter uma equipe motivada. Essa garra é o único combustível que pode reerguer uma organização, caso contrário, ela vai para o fundo mesmo."
Fonte: Por Marcelo Monteiro, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 7
A analogia é feita pelo professor Alexandre Luzzi Las Casas, que ontem à noite ministrou palestra no Instituto Nacional de Pós-Graduação (INPG), em São Paulo, com o tema "Marketing Titânico - Um estudo de empresas brasileiras que naufragaram". Entre as falências abordadas estão as de empresas como Encol, Iridium, Bloch Editores, Arapuã, Mesbla, Trol, Mappin e G. Aronson e ainda os casos de Sharp e KFC, que suspenderam suas atividades no Brasil. "No caso do Titanic, foram várias razões que fizeram o navio afundar. E entre as empresas analisadas também: um conjunto de coisas fez com que elas falissem", comenta Las Casas.
O especialista explica que o ambiente empresarial se equivale ao oceano, com toda a sua imprevisibilidade. Desta forma, assim como as embarcações em alto mar enfrentam intempéries (tempestades, icebergs, etc.), as empresas no mercado também estão sujeitas a adversidades e variáveis políticas, sociais, econômicas, culturais e concorrenciais, entre outras.
Com cerca de 286 metros de extensão (quase três campos de futebol oficiais), 28 metros de largura e 10 andares de altura, o Titanic partiu da cidade de Southhampton, na Inglaterra, no dia 10 de abril, com destino a Nova York. Construído com tecnologia de última geração para a época, o navio levava o título de "insubmergível", graças à divisão de seu casco em 16 compartimentos, separados por anteparas hermeticamente fechadas por portas à prova d’água. No dia do desastre, transportava 2.223 pessoas, das quais 1,5 mil morreram no gélido Atlântico Norte.
Conforme Las Casas, a grandiosidade do Titanic e a tecnologia geraram na tripulação um sentimento de que o navio seria imune a qualquer problema e que nunca, em qualquer hipótese, afundaria. "Eles (tripulantes) ficaram relapsos em certos aspectos. Quando entrou aquele grande número de clientes no navio, eles não se importaram que havia mais pessoas do que botes salva-vidas", conta.
No campo empresarial, é mais ou menos o que acontece com grandes empresas, que acreditam que, por serem gigantes e terem suas marcas consagradas, nada pode lhes afetar. "Elas acham que podem impor a sua cultura em qualquer lugar", afirma Las Casas, citando os casos de dois grandes fracassos, em sua opinião: o da montadora Mercedes-Benz, ao introduzir o modelo Classe A no Brasil sem qualquer estudo prévio ou adaptação ao mercado brasileiro, e o da Disney, ao criar a EuroDisney dentro dos mesmos moldes culturais do parque existente nos Estados Unidos, sem considerar os padrões culturais franceses.
Outro aspecto apontado é o de que, assim como em um barco, onde as pessoas permanecem longos períodos de tempo, também "há vida" nas empresas. "Os funcionários acabam fazendo uma vida dentro da organização", diz Las Casas. "Hoje, com o grande número de mulheres nas corporações, há mais relações amorosas e uma série de outras relações que antigamente, em um mercado predominantemente machista, não havia."
Neste sentido, diz o professor, as empresas atuais devem se preocupar cada vez mais com o que chama de "sociologia organizacional". A idéia é fazer com que não se desperdice internamente a energia que deveria ser despendida no mercado. "A implantação de novas ferramentas suga muita energia interna das organizações. Assim, as empresas acabam se afastando muito do mercado, porque toda a energia é gasta internamente."
Segundo o professor, as empresas precisam estar atentas para eventuais "icebergs" em seus caminhos e, mais do que isso, ter estruturas ágeis, capazes de reagir rapidamente diante da iminência de um desastre. "As empresas grandes em tese são as que teriam mais facilidade em se adaptar às variáveis econômicas, políticas, sociais e empresariais", explica Las Casas. Entretanto, nem sempre é assim que acontece. "Elas (companhias) têm de fazer ajustes, mas algumas são tão grandes que não têm a rapidez necessária para fazê-los e acabam quebrando. As empresas menores, em alguns casos, são mais ágeis."
Na opinião de Las Casas, mesmo nos casos em que o fim parece próximo, a última esperança da empresa para evitar o naufrágio total é uma equipe motivada. O exemplo clássico é o dos músicos, que no filme Titanic permanecem tocando, como se nada estivesse acontecendo, enquanto o resto da tripulação corre de um lado para o outro, tentando escapar da fúria do mar. "Quando você tem uma empresa afundando, que está em dificuldade, todo mundo tenta se salvar, manda o currículo para outros lugares e a empresa afunda mesmo", diz o professor. "Se uma empresa quiser se recuperar, precisa ter uma equipe motivada. Essa garra é o único combustível que pode reerguer uma organização, caso contrário, ela vai para o fundo mesmo."
Fonte: Por Marcelo Monteiro, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 7
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