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Tomada de decisões: de volta ao básico

Há algum tempo, tive uma conversa com um acadêmico cujo expertise era em tomada de decisões políticas e negociação. Descrevi meu interesse em analytics (uso da matemática para tomada de decisões em negócios, em tradução livre), em tomada de decisões automatizadas e também em sistemas de informação de forma geral.

“Imagino que as empresas com as quais você trabalha têm em mente algumas decisões específicas a tomar quando elas colocam todas essas informações para funcionar, não?”, disse ele.

“Não, na realidade, não têm”, respondi. “Perdemos a conexão entre o fornecimento da informação e a demanda por ela para tomada de decisões”.

Excetuando o fato de que as empresas freqüentemente justificam projetos de TI alegando que estes oferecem melhor possibilidades de tomada de decisões, há raramente uma ligação direta entre as informações produzidas por um sistema específico e as decisões que são supostamente tomadas baseadas nelas.

Quando meu velho amigo da Accenture Janne Harris e eu pesquisamos empresas sobre seus sistemas corporativos em 2002 e novamente em 2006, tomar melhores decisões era o objetivo mais frequentemente citado como justificativa para implementação de sistemas. Claro, era uma resposta fácil de dar, considerando que nenhuma empresa, literalmente, media a qualidade das decisões tomadas.

Ainda em entrevistas realizadas com essas empresas, não encontramos nem mesmo um único esforço para, de fato, conectar as informações da empresa com a tomada de decisões.

De que forma o fornecimento e a demanda tornaram-se desconectados? Deixe-me contar como:

Um dos motivos é que vários sistemas implementados em nível corporativo são focados em transações, não em decisões. Sistemas de gerenciamento de recursos humanos, por exemplo, em vez de ajudar gestores a decidir quantos empregados um negócio precisa, são utilizados para emitir folha de pagamento e monitorar as férias acumuladas.

Um segundo motivo é o fato de que os gestores nem sempre sabem quais informações e conhecimentos estão disponíveis para ajudá-lo a tomar decisões.

Gestores também não são, normalmente, “amarrados” contabilmente para explicar como tomam decisões; na melhor das hipóteses eles são apenas avaliados pelo resultado. Logo, não há motivo para saber quais informações eles utilizaram de fato para tomar as decisões.

De que forma podemos restabelecer a conexão entre sistemas de informação e tomada de decisões? Infelizmente, esta não é uma pergunta frequentemente endereçada a mim. Se fosse, daria algumas possíveis sugestões:

A primeira seria começar a fazer um inventário das decisões-chave. Para cada uma delas, a empresa poderia anotar quem é responsável em tomá-la, com que frequência isso é feito e quais informações e conhecimento são necessários para tomá-las adequadamente.

Outra abordagem seria antecipar-se a quaisquer iniciativas para construir soluções de BI (o tipo de TI que é mais relacionado com tomada de decisões) identificando as decisões-chave a serem tomadas com os dados e análises que tais soluções irão fornecer.

Uma terceira resposta seria começar a avaliar os gestores não somente baseado nos resultados obtidos com suas decisões, mas também nos processos que eles empregaram.

Acredito que o acesso à informação e conhecimento pode proporcionar melhor tomada de decisões. Às vezes, isso até já ocorre. No entanto, não acredito que investimentos de US$ 1 trilhão em sistemas de informações corporativos normalmente proporcionam melhores tomadas de decisões. Se sua organização consome esse dinheiro com TI, isso devia preocupar você.


Fonte: Por Tom Davenport, in Harvard Business Online

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