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De quem é a responsabilidade social?

A responsabilidade socioambiental que as empresas fazem questão de propagar está tornando-se um deplorável instrumento de hipocrisia. Em geral, as companhias procuram respaldar-se em selos de entidades cujo trabalho é considerado sério, porém essa blindagem rui no momento em que as firmas precisam comprovar, realmente, que têm responsabilidade e agem com seriedade. A loja do hipermercado Carrefour situada no bairro do Limão, na Zona Norte da capital paulista, pode ser tomada como exemplo deste tema. Como os demais estabelecimentos comerciais que oferecem estacionamento de veículos a seus clientes, o Carrefour Limão reserva as vagas próximas ao elevador a pessoas idosas ou com dificuldade de locomoção.

Trata-se de um cuidado bastante compreensível, dadas as restrições físicas desses clientes. O que não se entende - e não se aceita - é que o elevador não funcione há pelo menos dois anos. Em 18 de dezembro de 2006, formalizei uma queixa sobre o problema no serviço de atendimento ao cliente do Carrefour, no campo próprio que o hipermercado oferece em sua página na internet. Apesar de a reclamação ter sido protocolada por meio eletrônico em dezembro de 2006, já havia sido feita por mim a vários gerentes e funcionários da loja diversas vezes. As explicações para o elevador não funcionar iam da prosaica dificuldade de encontrar peças de manutenção - sustentada até hoje - até outras menos confessáveis, ditas à boca miúda por alguns empregados que se solidarizavam com a situação: o equipamento fora simplesmente desligado porque fornecedores da loja o usavam para carga e descarga de suprimentos.

Alguns dias após ter formalizado a queixa na página do Carrefour na internet, recebi o telefonema de uma funcionária do serviço de atendimento ao cliente do Carrefour. "Obrigado por ter nos informado sobre o problema. Estamos entrando em contato para dizer-lhe que o elevador voltou a funcionar", garantiu a moça. Em 28 de dezembro de 2006, dez dias depois de minha queixa, retornei à loja do Carrefour Limão. O elevador continuava sem sinal de vida. No mesmo dia, protocolei nova queixa. Alguns dias depois, novo telefonema de uma funcionária do hipermercado que assegurava que, desta vez, o problema havia sido solucionado.

Acreditei. Quando voltei à loja no mês seguinte, entretanto, fui dar uma olhada no elevador. Estava do mesmo jeito, hirto, tal qual a última vez que o vi. Desisti de reclamar e de fazer minhas compras nos estabelecimentos dessa marca, em decorrência do tipo de respeito que a empresa demonstra ter com seus clientes. Inconformado, decidi registrar uma reclamação no site da prefeitura de São Paulo, sob o número 6596458. A reclamação foi feita em 3 de abril de 2007. Oito dias depois, a prefeitura respondeu que fizera uma vistoria técnica no local, constatara que o elevador estava parado por falta de manutenção e enviara um relatório à administração do Carrefour para as providências cabíveis. Até a semana passada, o elevador continuava do mesmo jeito.

Qual é a responsabilidade social de um hipermercado que não oferece em sua loja condições de acesso a pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida? Como se pode constatar pelas datas narradas aqui, não se trata de um problema eventual. A situação persiste há mais de dois anos. Para quem possui algum tipo de limitação, o uso das esteiras rolantes oferecidas pela loja não é uma opção. Pelo contrário, pode provocar um acidente sério em pessoas nessas condições.

E qual a responsabilidade social da prefeitura de São Paulo? Além do descaso do hipermercado de não oferecer a pessoas deficientes condições de acesso a sua loja, por que a prefeitura permitiu que o Carrefour mantivesse o elevador desligado por falta de manutenção nesses mais de dois anos? Não houve fiscalização durante esse período? Minha proposta é que nós, consumidores, exerçamos nossa responsabilidade social e excluamos de nossa vida empresas que atuam dessa forma.


Fonte: Por Costábile Nicoletta, in Gazeta Mercantil

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