A legislação que rege os cursos de Jornalismo explicita que toda universidade/faculdade que oferece um curso de Jornalismo deve dispor de um veículo (comumente designado de jornal-laboratório) onde os futuros profissionais de imprensa possam, na prática, aplicar os conhecimentos adquiridos e experimentar novas propostas.
Infelizmente, muitas instituições de ensino (e muitas chefias que dirigem os cursos de Jornalismo) parecem não ter entendido o "espírito da coisa" ou, por cumplicidade / má fé, resolveram transformar o jornal-laboratório num verdadeiro "frankstein pedagógico". Na verdade, têm transformado este veículo, fundamental para a formação do jornalista, num house-organ, um jornal a serviço da faculdade, quase sempre caracterizado pelo tom institucional, propagandístico, reduzido a um canal de promoção de reitores, chefes de gabinete, chefes de departamento, diretores de unidades e outras autoridades vaidosas do ensino, da pesquisa e da extensão.
Buscando ostensivamente burlar a legislação, aproveitam de mão-de-obra gratuita para "perpetrar" um veículo que nada tem a ver com laboratório, na medida em que se vale de uma fórmula surrada, pouco criativa e que ainda agrega outros atributos condenáveis para a formação de um jornalista, como a censura e a auto-censura. Na verdade, elas, muitas vezes estão disfarçadas, mas são reais, na medida em que a direção mantém o controle sobre a pauta, as fontes, o sistema de produção jornalística enfim.
As universidades, cursos e chefes de departamento que assumem este jornal-laboratório de fachada incorporam (e põem em prática) uma perspectiva de ensino que confunde educação com adestramento e cujo objetivo não é permitir o debate, o diálogo, a experimentação, mas a repetição de formas e fórmulas que engessam a criatividade, desestimulam a participação e contribuem para a burocratização do processo de produção jornalística.
Este equívoco precisa ser combatido, denunciado porque o jornal-laboratório não se resume a um espaço para ensino de técnicas, mas para um fórum permanente, um processo rico em que prevalecem a inquietude, a investigação, o espírito crítico, a disposição para "enxergar além da notícia".
Os jornais-laboratórios que têm a cara de chefias e reitores (e seus pelegos dispersos pela instituição) não contribuem em nada para a formação de jornalistas críticos, mas legitimam uma visão nefasta (que o Maluf não nos leia!) do ensino de jornalismo, que repete "leads", que confunde reportagem com "releases" e que tem como proposta (equivocada) eliminar as tensões inerentes à praxis jornalística.
É preocupante perceber como alunos de jornalismo (muitas vezes agrupados em classes com dezenas ou uma centena de pessoas) têm, passivamente, aderido a esta situação, quase sempre a eles apresentada como representativa da realidade profissional que aí está.
Não é razoável tolerar este cinismo e essa hipocrisia profissional. O jornal-laboratório é, por conceito, um espaço para experimentação, para ousadias, para novas propostas que devem ser colocadas além do mercado e não refém daquilo que aí está. Ao propor o jornal-laboratório como house-organ, as universidades e os cursos de jornalismo estão abrindo mão da capacidade de investigação, violentando o processo essencial da apuração dos fatos, e reduzindo o "ethos jornalístico" à badalação de pessoas e autoridades que detêm poder na instituição. São elas que definem as pautas, empurrando-as goela abaixo dos futuros profissionais que podem, a partir desta experiência nociva, imaginar que o jornalismo se pratica em ambientes refrigerados, onde predominam a harmonia, os "tapinhas nas costas", as fontes sempre disponíveis e a ausência de questionamentos.
Os alunos de jornalismo, e também os professores de jornalismo (muitos são cúmplices desta farsa pedagógica), precisam reagir imediatamente a esse processo que tem contribuído para a formação de profissionais-adesistas, de jornalistas de gabinete, freqüentadores ruidosos de coletivas e entusiastas das viagens "a convite de".
Nada, nada mesmo contra os house-organs, pelo menos os house-organs de verdade (a maioria dos que são editados pelas organizações não passa de "folders" mal elaborados) que cumprem um papel fundamental no Jornalismo e na Comunicação Empresarial.
O jornalismo não é atividade para ser exercida por jovens de cabeça baixa, sem auto-estima, que apenas cumprem pautas, de profissionais que não têm voz e opinião. É um espaço para debates acalorados, para tensões que refletem os interesses em jogo e que espelham, inclusive, o esforço individual e coletivo de servir à sociedade.
Abaixo o jornal-laboratório de fachada, este "jabá" pedagógico-institucional que está grassando nas universidades e cursos de jornalismo. Está na hora de dar um basta a essa violência contra o mercado profissional.
Não devemos formar jornalistas para beijar a mão de empresas transgênicas, verdadeiras monoculturas da mente, que estão mais preocupadas com o inseticida , com o glifosato que intoxica, do que com a semente que cultiva a diversidade. Convenhamos: a indústria tabagista, a indústria agroquímica , a da saúde, a de armas ou de biotecnologia e outras menos votadas devem adorar estes jornalistas-fantoches que não têm espinha e cérebro e se curvam a qualquer coisa. A Philip Morris continua patrocinando cursos de formação de "focas" promovidos pelos nossos jornalões, o que evidencia a relação promíscua (negócio é negócio, devem justificar os nossos empresários da comunicação) entre veículos e empresas que comercializam drogas (ainda que lícitas).
O jornal-laboratório de que precisamos não deve estar sob a tutela de reitores ou de diretores de unidades, muito menos de chefias de departamentos que não têm compromisso com a cidadania, com a educação para a liberdade.
Os alunos conscientes devem se rebelar contra este modelo que lhes têm sido imposto. Existe vida além da Monsanto (cuidado, round-up não é remédio e nem mata fome coisa alguma), da Souza Cruz (ela lucra e você leva fumo!), da Cataguazes (eta empresa ruim para construir barragens!), dos laboratórios que continuam recolhendo produtos perigosos, amplamente alardeados por uma propaganda milionária ( o FDA deixa passar qualquer coisa, não é mesmo?). Não se fie em quem esmaga o seu dedo (Fox é raposa ou estou enganado?) ou em quem chama plantação de eucalipto de floresta (que só tem valor quando derrubada!). Cuidado com as construtoras que destroem (buraco pra lá, fura-fila pra cá!), com as empresas áreas que voam com o reverso pinado e andam plantando perfis no Orkut para limpar a imagem desgastada!. Suspeite de universidades que andam proclamando sua responsabilidade social e fecham turmas a torto e direito ou reduzem vagas por ordem do MEC por causa da má qualidade do ensino.
O jornal-laboratório precisa incorporar estas pautas imediatamente. Comece a questionar, se for aluno de jornalismo, aquelas que os professores depositam no seu colo e que, muitas vezes, apenas servem para agradar a reitoria, para manter o status-quo ou até para fazer média com os clientes que os remuneram em suas agências/assessorias fora dos muros da universidade.
O bom profissional de imprensa aprende logo duas coisas que me têm acompanhado (e me sido útil) por toda a vida: 1) quem abaixa a cabeça e curva a espinha, deixa exposto o traseiro; 2) quem poupa o lobo, coloca em risco a ovelha.
Jornal-laboratório não é sinônimo de house-organ mal feito. Quem prefere o ar condicionado da sala, a maciez do sofá, a voz melosa das fontes, a pauta fácil, deveria buscar outra praia. O jornalismo é para aqueles que têm tutano, cérebro ativo e não têm receio de experimentar. Diga isso para o seu professor e para o reitor da sua universidade. Se for para fazer propaganda da instituição, cobre caro. Como a gente costuma repetir, "não tem almoço grátis".
Em tempo: parabéns e agradecimentos ao Mário Luiz Policeno Filho que, no último dia 7 de abril, no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP, defendeu com brilhantismo a sua dissertação intitulada Jornal laboratório ou house-organ? Ele me inspirou o tema desta coluna. Que bom, já somos dois nesta cruzada!
Fonte: Por Wilson da Costa Bueno, in portalimprensa.uol.com.br
Infelizmente, muitas instituições de ensino (e muitas chefias que dirigem os cursos de Jornalismo) parecem não ter entendido o "espírito da coisa" ou, por cumplicidade / má fé, resolveram transformar o jornal-laboratório num verdadeiro "frankstein pedagógico". Na verdade, têm transformado este veículo, fundamental para a formação do jornalista, num house-organ, um jornal a serviço da faculdade, quase sempre caracterizado pelo tom institucional, propagandístico, reduzido a um canal de promoção de reitores, chefes de gabinete, chefes de departamento, diretores de unidades e outras autoridades vaidosas do ensino, da pesquisa e da extensão.
Buscando ostensivamente burlar a legislação, aproveitam de mão-de-obra gratuita para "perpetrar" um veículo que nada tem a ver com laboratório, na medida em que se vale de uma fórmula surrada, pouco criativa e que ainda agrega outros atributos condenáveis para a formação de um jornalista, como a censura e a auto-censura. Na verdade, elas, muitas vezes estão disfarçadas, mas são reais, na medida em que a direção mantém o controle sobre a pauta, as fontes, o sistema de produção jornalística enfim.
As universidades, cursos e chefes de departamento que assumem este jornal-laboratório de fachada incorporam (e põem em prática) uma perspectiva de ensino que confunde educação com adestramento e cujo objetivo não é permitir o debate, o diálogo, a experimentação, mas a repetição de formas e fórmulas que engessam a criatividade, desestimulam a participação e contribuem para a burocratização do processo de produção jornalística.
Este equívoco precisa ser combatido, denunciado porque o jornal-laboratório não se resume a um espaço para ensino de técnicas, mas para um fórum permanente, um processo rico em que prevalecem a inquietude, a investigação, o espírito crítico, a disposição para "enxergar além da notícia".
Os jornais-laboratórios que têm a cara de chefias e reitores (e seus pelegos dispersos pela instituição) não contribuem em nada para a formação de jornalistas críticos, mas legitimam uma visão nefasta (que o Maluf não nos leia!) do ensino de jornalismo, que repete "leads", que confunde reportagem com "releases" e que tem como proposta (equivocada) eliminar as tensões inerentes à praxis jornalística.
É preocupante perceber como alunos de jornalismo (muitas vezes agrupados em classes com dezenas ou uma centena de pessoas) têm, passivamente, aderido a esta situação, quase sempre a eles apresentada como representativa da realidade profissional que aí está.
Não é razoável tolerar este cinismo e essa hipocrisia profissional. O jornal-laboratório é, por conceito, um espaço para experimentação, para ousadias, para novas propostas que devem ser colocadas além do mercado e não refém daquilo que aí está. Ao propor o jornal-laboratório como house-organ, as universidades e os cursos de jornalismo estão abrindo mão da capacidade de investigação, violentando o processo essencial da apuração dos fatos, e reduzindo o "ethos jornalístico" à badalação de pessoas e autoridades que detêm poder na instituição. São elas que definem as pautas, empurrando-as goela abaixo dos futuros profissionais que podem, a partir desta experiência nociva, imaginar que o jornalismo se pratica em ambientes refrigerados, onde predominam a harmonia, os "tapinhas nas costas", as fontes sempre disponíveis e a ausência de questionamentos.
Os alunos de jornalismo, e também os professores de jornalismo (muitos são cúmplices desta farsa pedagógica), precisam reagir imediatamente a esse processo que tem contribuído para a formação de profissionais-adesistas, de jornalistas de gabinete, freqüentadores ruidosos de coletivas e entusiastas das viagens "a convite de".
Nada, nada mesmo contra os house-organs, pelo menos os house-organs de verdade (a maioria dos que são editados pelas organizações não passa de "folders" mal elaborados) que cumprem um papel fundamental no Jornalismo e na Comunicação Empresarial.
O jornalismo não é atividade para ser exercida por jovens de cabeça baixa, sem auto-estima, que apenas cumprem pautas, de profissionais que não têm voz e opinião. É um espaço para debates acalorados, para tensões que refletem os interesses em jogo e que espelham, inclusive, o esforço individual e coletivo de servir à sociedade.
Abaixo o jornal-laboratório de fachada, este "jabá" pedagógico-institucional que está grassando nas universidades e cursos de jornalismo. Está na hora de dar um basta a essa violência contra o mercado profissional.
Não devemos formar jornalistas para beijar a mão de empresas transgênicas, verdadeiras monoculturas da mente, que estão mais preocupadas com o inseticida , com o glifosato que intoxica, do que com a semente que cultiva a diversidade. Convenhamos: a indústria tabagista, a indústria agroquímica , a da saúde, a de armas ou de biotecnologia e outras menos votadas devem adorar estes jornalistas-fantoches que não têm espinha e cérebro e se curvam a qualquer coisa. A Philip Morris continua patrocinando cursos de formação de "focas" promovidos pelos nossos jornalões, o que evidencia a relação promíscua (negócio é negócio, devem justificar os nossos empresários da comunicação) entre veículos e empresas que comercializam drogas (ainda que lícitas).
O jornal-laboratório de que precisamos não deve estar sob a tutela de reitores ou de diretores de unidades, muito menos de chefias de departamentos que não têm compromisso com a cidadania, com a educação para a liberdade.
Os alunos conscientes devem se rebelar contra este modelo que lhes têm sido imposto. Existe vida além da Monsanto (cuidado, round-up não é remédio e nem mata fome coisa alguma), da Souza Cruz (ela lucra e você leva fumo!), da Cataguazes (eta empresa ruim para construir barragens!), dos laboratórios que continuam recolhendo produtos perigosos, amplamente alardeados por uma propaganda milionária ( o FDA deixa passar qualquer coisa, não é mesmo?). Não se fie em quem esmaga o seu dedo (Fox é raposa ou estou enganado?) ou em quem chama plantação de eucalipto de floresta (que só tem valor quando derrubada!). Cuidado com as construtoras que destroem (buraco pra lá, fura-fila pra cá!), com as empresas áreas que voam com o reverso pinado e andam plantando perfis no Orkut para limpar a imagem desgastada!. Suspeite de universidades que andam proclamando sua responsabilidade social e fecham turmas a torto e direito ou reduzem vagas por ordem do MEC por causa da má qualidade do ensino.
O jornal-laboratório precisa incorporar estas pautas imediatamente. Comece a questionar, se for aluno de jornalismo, aquelas que os professores depositam no seu colo e que, muitas vezes, apenas servem para agradar a reitoria, para manter o status-quo ou até para fazer média com os clientes que os remuneram em suas agências/assessorias fora dos muros da universidade.
O bom profissional de imprensa aprende logo duas coisas que me têm acompanhado (e me sido útil) por toda a vida: 1) quem abaixa a cabeça e curva a espinha, deixa exposto o traseiro; 2) quem poupa o lobo, coloca em risco a ovelha.
Jornal-laboratório não é sinônimo de house-organ mal feito. Quem prefere o ar condicionado da sala, a maciez do sofá, a voz melosa das fontes, a pauta fácil, deveria buscar outra praia. O jornalismo é para aqueles que têm tutano, cérebro ativo e não têm receio de experimentar. Diga isso para o seu professor e para o reitor da sua universidade. Se for para fazer propaganda da instituição, cobre caro. Como a gente costuma repetir, "não tem almoço grátis".
Em tempo: parabéns e agradecimentos ao Mário Luiz Policeno Filho que, no último dia 7 de abril, no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP, defendeu com brilhantismo a sua dissertação intitulada Jornal laboratório ou house-organ? Ele me inspirou o tema desta coluna. Que bom, já somos dois nesta cruzada!
Fonte: Por Wilson da Costa Bueno, in portalimprensa.uol.com.br
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