O Le Monde, de Paris, está em greve. Protesta contra a demissão de funcionários. Desde de 1976 não acontecia nada semelhante. Não vou falar da greve do Le Monde, mas do seu significado simbólico. No dia seguinte à queda do Muro de Berlim, as companhias fizeram soar o toque de avançar do neoliberalismo. Isto significou a transformação da política em algo abstrato. O individuo pode se manifestar, o coletivo não.
Com isso, toda a energia do trabalhador foi canalizada para a lucratividade máxima. A produtividade máxima. Voltou-se à época da primeira revolução industrial, só que acondicionada na pós-modernidade computadorizada. Os mecanismos de controle passaram a ser invisíveis: a competição por carreiras, os orçamentos centralizados nas matrizes, as metas muitas vezes inalcançáveis, as pressões de toda ordem contra qualquer ambição associativa. Aboliram-se os limites da vida privada e o ambiente de trabalho estendeu-se por toda parte. É fonte de angústia e prazer, mais angústia do que prazer. Substitui a família, o lazer, o amor, o "eu".
Rompidos os laços de solidariedade, o capital tornou-se a força absolutamente dominante, ao ponto de conseguir tirar de cena palavras como capitalismo e burguesia. Não é verdade? Hoje, fala-se não mais em capitalismo, mas em mercado. Fala-se em gestores, investidores, executivos. A burguesia tornou-se quase uma relíquia histórica. Em síntese, modelou-se novos padrões culturais, novos continentes de poder, uma concepção de produção que abstrai o labor abstrato de toda a cadeia produtiva para colocar em seu lugar a miragem de uma suposta força do indíviduo.
Caiu o Muro, o mundo tornou-se uma Roma sem Cartago. Quer dizer, sem visão crítica. Sem alternativa à realidade imposta pelo universo das corporações. O exemplo que vem do Le Monde mostra que é possível haver um renascimento, um relacionamento dialético entre os imperativos da globalização e os imperativos da construção de relações humanísticas no ambiente das companhias. A greve é contra a demissão de 130 funcionários. Uma greve de solidariedade, melhor dizendo.
No Brasil precisamos retomar esse caminho. Dizer não a uma lógica que ninguém quer - a lógica da desumanização em prol do capital -, mas que expressa a vontade de todos, na medida em que existe porque todos se mantêm em silêncio. Essa visão crítica bem que poderia ter a bandeira dos partidos que se alinham em defesa do progresso e da democracia. Há alguns dias os jornais publicaram noticias informando que o brasileiro trabalha sete meses por ano para pagar dívidas. Se somados aos outros quatro meses que trabalha para pagar impostos, são 11 meses perdidos.
Portanto, onze meses sem gerar riqueza com o valor do trabalho. Por que os partidos políticos, em lugar de mensagens vazias como as que caracterizam os programas eleitorais, não usam seus espaços para educar o cidadão? Por que não colocam em prática o discurso crítico desvendando a porção invisível do crédito fácil e abundante, do consumismo irracional, de um narcisismo que nada constrói?
É esse um dos grandes desafios da campanha política que se aproxima. Os comunicadores precisam estar mais atentos para a realidade profunda da sociedade. Deixar a mesmice do marketing e trabalhar para apresentar propostas concretas a esse mal estar oceânico que inibe avanços socais e nos vende a ilusão de que estamos bem, só porque a economia emite tíbios sinais de vitalidade. Se preponderar a visão critica, veremos que o Estado precisa ser revigorado e a política voltar a ocupar posição central na vida da sociedade. É o que os funcionários do Le Monde expressam ao dizer não. Não à demissão dos colegas. Não à Roma sem Cartago.
Fonte: Por Francisco Viana, in terramagazine.terra.com.br
Com isso, toda a energia do trabalhador foi canalizada para a lucratividade máxima. A produtividade máxima. Voltou-se à época da primeira revolução industrial, só que acondicionada na pós-modernidade computadorizada. Os mecanismos de controle passaram a ser invisíveis: a competição por carreiras, os orçamentos centralizados nas matrizes, as metas muitas vezes inalcançáveis, as pressões de toda ordem contra qualquer ambição associativa. Aboliram-se os limites da vida privada e o ambiente de trabalho estendeu-se por toda parte. É fonte de angústia e prazer, mais angústia do que prazer. Substitui a família, o lazer, o amor, o "eu".
Rompidos os laços de solidariedade, o capital tornou-se a força absolutamente dominante, ao ponto de conseguir tirar de cena palavras como capitalismo e burguesia. Não é verdade? Hoje, fala-se não mais em capitalismo, mas em mercado. Fala-se em gestores, investidores, executivos. A burguesia tornou-se quase uma relíquia histórica. Em síntese, modelou-se novos padrões culturais, novos continentes de poder, uma concepção de produção que abstrai o labor abstrato de toda a cadeia produtiva para colocar em seu lugar a miragem de uma suposta força do indíviduo.
Caiu o Muro, o mundo tornou-se uma Roma sem Cartago. Quer dizer, sem visão crítica. Sem alternativa à realidade imposta pelo universo das corporações. O exemplo que vem do Le Monde mostra que é possível haver um renascimento, um relacionamento dialético entre os imperativos da globalização e os imperativos da construção de relações humanísticas no ambiente das companhias. A greve é contra a demissão de 130 funcionários. Uma greve de solidariedade, melhor dizendo.
No Brasil precisamos retomar esse caminho. Dizer não a uma lógica que ninguém quer - a lógica da desumanização em prol do capital -, mas que expressa a vontade de todos, na medida em que existe porque todos se mantêm em silêncio. Essa visão crítica bem que poderia ter a bandeira dos partidos que se alinham em defesa do progresso e da democracia. Há alguns dias os jornais publicaram noticias informando que o brasileiro trabalha sete meses por ano para pagar dívidas. Se somados aos outros quatro meses que trabalha para pagar impostos, são 11 meses perdidos.
Portanto, onze meses sem gerar riqueza com o valor do trabalho. Por que os partidos políticos, em lugar de mensagens vazias como as que caracterizam os programas eleitorais, não usam seus espaços para educar o cidadão? Por que não colocam em prática o discurso crítico desvendando a porção invisível do crédito fácil e abundante, do consumismo irracional, de um narcisismo que nada constrói?
É esse um dos grandes desafios da campanha política que se aproxima. Os comunicadores precisam estar mais atentos para a realidade profunda da sociedade. Deixar a mesmice do marketing e trabalhar para apresentar propostas concretas a esse mal estar oceânico que inibe avanços socais e nos vende a ilusão de que estamos bem, só porque a economia emite tíbios sinais de vitalidade. Se preponderar a visão critica, veremos que o Estado precisa ser revigorado e a política voltar a ocupar posição central na vida da sociedade. É o que os funcionários do Le Monde expressam ao dizer não. Não à demissão dos colegas. Não à Roma sem Cartago.
Fonte: Por Francisco Viana, in terramagazine.terra.com.br
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