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A importância das microtendências em nossa sociedade

Em seu livro Microtrends, Mark Penn examina como pequenas idéias podem, surpreendentemente, atuar como grandes agentes de mudança e lançar novos negócios ou movimentos culturais capazes de alterar os cenários comercial, político e social.

O que inspirou Mark Penn a escrever Microtrends foi a percepção de que poderia ajudar as pessoas a compreender melhor o mundo através de números. Durante vários anos, Penn atuou com pesquisas de opinião – observando tendências em setores diversos, como o político, o corporativo e o social. Na maioria dos casos, diz ele, a chave para o sucesso é encontrar grupos pequenos e não identificáveis por meios tradicionais, grupos que estão fazendo ou elaborando coisas que vão de encontro à compreensão convencional. Para Penn, são esses grupos que podem decidir uma eleição, revolucionar um tipo de negócio ou colocar em ação um novo movimento social. “Eles fazem uma grande diferença, mas, mesmo assim, os formadores de opinião da sociedade ainda não os perceberam ou negam sua existência”, diz o pesquisador.

Explicando de maneira mais contextual, Penn afirma que esses são grupos pequenos, porém em crescimento, formados por pessoas que compartilham, de forma intensa, uma escolha ou preferência freqüentemente nada óbvia e que passam despercebidas por empresas, “marketeiros”, elaboradores de políticas etc. Normalmente, uma microtendência pode ser representado por um grupo de três milhões de pessoas ou representar 1% da população americana. Mesmo que esse grupo nunca cresça, pode causar um impacto enorme à sociedade.

O motivo pelo qual as microtendências devem ser vistas como algo relevante é o fato de elas serem uma nova força atuante em nossa sociedade e em nosso futuro. Uma gama de escolhas sem precedentes encontra-se disponível para os grupos sociais e os indivíduos estão manifestando essas escolhas de tal maneira que acabam criando novos mercados, grupos de afinidade e novos movimentos. Para o palestrante, se você confiar no uso das práticas convencionais para identificá-los, ficará para trás, porque tais métodos funcionam como um termômetro e não um elemento que o fará liderar o processo.

As pessoas estão sempre tentando encontrar uma nova tendência. Penn revela que existem milhares de novas ondas para serem investigadas a fundo. Casamentos entre pessoas que se conheceram pela internet são um bom exemplo disso. Tal fenômeno está quebrando as barreiras convencionais de classes sociais e distância.

Alguns eventos ocorridos recentemente demonstram a relevância de examinar números para identificar as microtendências. Por exemplo, Penn identificou, através dessa abordagem, a existência de grupos terroristas com bom nível educacional três meses antes da conspiração de médicos descoberta na Grã-Bretanha. Outra microtendência que ele relata é a que está para ser manifestada pelo grupo de aproximadamente cinco milhões de indivíduos de classe média nos Estados Unidos, que são potenciais compradores da segunda moradia. Eles serão, na visão de Penn, um fator fundamental para determinar a política e o impacto do que vai ocorrer nesse mercado.

Uma questão curiosa: se microtendências são, por definição, manifestadas por pequenos grupos, como analisá-las através de números? A resposta de Penn para isso é que os números ajudam a tatear algo verdadeiramente inquestionável. A partir daí, é possível descobrir a “história por detrás dos panos”. Isso sim é o importante, porque é o que nos revela a maneira como as pessoas estão vivendo suas vidas, bem como as mudanças que estão experimentando. Por exemplo, o índice de heterossexuais entre o sexo masculino dificulta a vida das mulheres heterossexuais, porque os dados no mundo demonstram que há, simplesmente, mais mulheres do que homens heterossexuais. E isso é um dado numérico, não uma suposição.

Outro exemplo de microtendência, uma das favoritas de Mark Penn, é a do grupo de aposentados que trabalham. Ao contrário da idéia de que a população economicamente ativa está envelhecendo em países como Estados Unidos (ou mesmo no Brasil), o fato é que os cidadãos desses países estão escolhendo (ou não podendo escolher) se manter na ativa. Isso traz conseqüências não apenas para a geração de aposentados, mas também para os jovens que aguardam novas oportunidades, para não mencionar o impacto que isso gera nas políticas previdenciárias e na indústria da saúde.

Uma microtendência surpreendente, na opinião dele, é a dos pais permissivos. Eles fazem parte de um grupo que redefiniu o que significa ser rigoroso e que tipo de punição deve ser aplicada, pois acreditam que somente eles são assim e que os demais pais são mais maleáveis, quando o assunto é disciplina.

Finalmente, Penn observa que estamos vivenciando uma explosão de tolerância pelas diferenças, algo que é uma importante pré-condição para o crescimento das microtendências. As pessoas têm que se sentir confortáveis para expressar-se, e a sociedade encontra-se aberta a novas maneiras para que isso ocorra. Em vez de dar continuidade à existência de linhas divisórias antigas, como raça e religião, ela consegue fazer tal divisão através de gostos e preferências. As microtendências simbolizam um triunfo da escolha pessoal, e o despertar disso vem acompanhado não somente da satisfação pessoal, mas também da liberdade individual e dos direitos das minorias.

“São as pequenas forças que estão, de fato, moldando as grandes mudanças que ocorrem hoje e que ocorrerão amanhã”, finaliza Penn.


Fonte: www.hsm.com.br

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