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A estratégia depende da análise da empresa

Para fazer jus à origem militar do termo "estratégia", contarei uma história de guerra. Muitos analistas acreditam que a Alemanha nazista começou a perder a Segunda Guerra Mundial no ataque à então União Soviética, em 1941. Hitler avaliava ser impossível ganhar a guerra no oeste da Europa sem uma vitória no leste e colocou três milhões de soldados alemães nos Bálcãs, além de dois milhões de combatentes de tropas do Eixo (Japão e Itália). Era a Operação Barbarossa.

Hitler iniciou a operação em junho e previa que, entre outubro e novembro, a URSS já teria capitulado. Ele confiava no poder da blitzkrieg, sua guerra relâmpago baseada no ataque rápido a alvos específicos com ações coordenadas por ar e terra - esse sistema derrotara o exército francês no ano anterior. O führer também achava que seria apoiado pelo povo soviético, severamente oprimido pela ditadura de Josef Stalin.

De fato, em três meses os alemães estavam às portas de Moscou. Aos poucos, Stalin foi cedendo quase toda a parte européia da União Soviética aos nazistas, e atacou-os por trás, cortando seus suprimentos. Em dezembro, com o inverno russo e sem uniformes próprios, os soldados nazistas não conseguiram completar a invasão de Moscou e entrar no Kremlin, o centro do poder. Também não conseguiram invadir Leningrado, atual São Petesburgo, que foi inteiramente cercada pelo Exército Vermelho.

Sem sucesso nessas duas cidades, os alemães resolveram abrir mais uma frente de batalha, movendo, em meados de 1942, parte das tropas para o sul do país. Hitler pretendia dominar os campos de petróleo do Cáucaso e a rota de transporte de navios no rio Volga, que seriam dois grandes golpes nos soviéticos e nos aliados de forma geral. Mas a estratégia nazista fracassou. E você sabe por quê?Vejamos os fatos: na campanha da URSS, Hitler tinha objetivos bem definidos e um caminho claro para alcançá-los. Onde ele errou? Essa resposta é virtualmente infinita, é claro. Mas, para o nosso propósito, importa frisar que ele não desenhou um retrato fiel da situação daquele momento. Não conhecia suas forças e fraquezas: a blitzkrieg já não surpreendia como antes, e o exército alemão não dava conta de combater em três frentes. Ignorava o contexto do inverno russo e, principalmente, não compreendia as forças e fraquezas do rival.

Para entender esse rival, bastaria que Hitler estudasse a história da invasão da Rússia por Napoleão Bonaparte. Em 1812, Napoleão já estava instalado no Kremlin quando os russos voluntariamente começaram a incendiar Moscou, queimando tudo o que possuíam. E onde eu quero chegar com tudo isso?

Descubra onde a sua empresa está hoje! Por quê? Porque a estratégia nascerá errada se não for feita uma análise da empresa, de seu mercado e do ambiente em que se encontra, ou se essa análise estiver equivocada ou incompleta. Trata-se de algo muito mais complexo do que descobrir quantos quilos você consegue perder em uma semana ou algo similar, já que se subavaliar sua capacidade na situação atual, você cometerá um grave erro, pois poderia ir mais longe do que está prevendo; se superestimá-la, vai propor-se um objetivo que não poderá alcançar.

De forma semelhante, o militar e filósofo chinês Sun Tzu disse há 2.500 anos: "Se conhecemos o inimigo e a nós mesmos, não precisamos temer o resultado de uma centena de combates. Se nos conhecemos, mas não ao inimigo, para cada vitória sofreremos uma derrota. Se não nos conhecemos nem ao inimigo, sucumbiremos em todas as batalhas".

O autoconhecimento, ou a auto-análise, em especial se for sincera, despida de preconceitos e corajosa o suficiente para fornecer respostas úteis sobre pontos fracos e fortes, é um passo fundamental para descobrir "onde você está hoje" e, assim, determinar o seu plano para chegar ao amanhã.


Fonte: Por Carlos Alberto Júlio - Presidente da Tecnisa, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 11

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