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Apenas 27% das empresas têm ações de apoio a empregados

Por pouco, Keila Batista de Almeida não fez um mau negócio. Em tratativas adiantadas para a aquisição de um apartamento, a analista financeira da Comgás preocupou-se com o fato de o imóvel fazer parte de um inventário. Decidiu, então, buscar assessoria jurídica junto ao Programa Amigo, oferecido pela companhia aos seus funcionários. "O advogado mencionou uma série de documentos que eu tinha de solicitar ao proprietário. E alertou: ‘Se não estiver dessa forma, não compre, que estará fazendo besteira’", lembra Keila. "No dia seguinte, fui à imobiliária e eles não tinham os documentos. Acabei não fechando negócio."

A exemplo de Keila, funcionários de várias companhias que atuam no Brasil contam com algum Programa de Assistência a Empregados (EAP, sigla do inglês Employee Assistance Program). Conforme uma pesquisa realizada pela consultoria Watson Wyatt Worldwide, 27% das empresas com operações no País oferecem algum EAP. Em 76% delas, o benefício é estendido aos familiares.

Os programas auxiliam os funcionários em relação a problemas pessoais, como dependência química, distúrbios psicológicos, dificuldades no trabalho e em casa, estresse, entre outros. O objetivo é minimizar os efeitos destas questões em suas atividades profissionais, mantendo ou até melhorando a produtividade da empresa.

Segundo o consultor sênior Cesar Lopes, as companhias que oferecem um EAP vêem esse tipo de serviço como uma forma de garantir benefícios para os empregados e, ao mesmo tempo, ganhos corporativos. "O funcionário é estimulado a usar o programa", diz Lopes. "A empresa sabe que, uma vez resolvido o problema, o empregado vai aumentar a produtividade e diminuir o absenteísmo", argumenta.

Segundo ele, o estresse é o principal problema apresentado pelos gestores atendidos neste tipo de programa. "O executivo acaba tendo uma série de pressões por resultados, tem de corresponder a expectativas internas. Há o estresse para atingir e superar metas", aponta Lopes. "Se fizéssemos um mapeamento por perfil de cargo, com certeza essa questão seria o maior índice entre os executivos", sustenta.

Além de ajudar o empregado a resolver problemas pessoais que possam interferir em suas atividades, os EAPs também servem com uma espécie de triagem, que reduz os número de atendimentos médicos via plano de saúde. O que resulta em economia para a empresa. "Você acaba usando esse tipo de expediente como triagem para utilização da rede credenciada", explica Lopes.

No caso da Comgás, o Programa Amigo oferece psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, advogados, pedagogos e outros especialistas em aconselhamento. A iniciativa tem como base de operação um telefone 0800. A linha é operada por psicológos, que, quando necessário, encaminham os casos para os especialistas nas diversas áreas.

O serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana, e não há um limite de ligações por funcionário. Nos feriados e finais de semana, o programa ainda disponibiliza um plantão para emergências. Para a conclusão do atendimento, são realizadas duas avaliações: uma refere-se à satisfação do usuário, e outra visando medir a eficácia das medidas adotadas.

Além disso, os serviços oferecidos são sigilosos. Realizado por uma consultoria externa, o programa realiza um atendimento regido por rigorosos protocolos, em todas as etapas do processo - do telefonema inicial até a conclusão. "Esses programas têm como caráter básico serem bem confidenciais", diz Cesar Lopes. "O departamento de RH, muitas vezes, faz apenas o papel de contratar a empresa que vai cuidar do assunto", completa o consultor.

Funcionária da Comgás há dois anos, Keila Batista de Almeida comemorou o fato de não ter de pagar uma consulta jurídica e, mais do que isso, não precisar "perder tempo procurando um advogado de confiança". "É uma segurança que a gente tem, em um hora em que precisa de apoio", exalta a analista financeira.

Vale-qualidade de vida
A Ticket, empresa do Grupo Accor, oferece diversos benefícios e iniciativas de proteção à saúde. Chamado Viva Melhor, o programa tem como objetivo disponibilizar instrumentos e ferramentas para que cada colaborador e seus dependentes tenham a melhor qualidade de vida pessoal e profissional, assim como as melhores condições de trabalho e segurança. A idéia geral do programa também está ligada ao incremento no desempenho dos colaboradores, à redução do nível de absenteísmo e à melhoria do clima organizacional.

Visando combater e prevenir o estresse, a empresa também mantém, desde 2006, o Programa Estilo de Vida. A iniciativa inclui ações que buscam reduzir o risco de estresse, incluindo suas conseqüências físicas, psicológicas, sociais e mentais. Neste sentido, uma equipe multidisciplinar (médico, psicólogo, nutricionista e fisioterapeuta) é colocada à disposição dos colaboradores.

Demissão e rejeição
A pesquisa da Watson Wyatt Worldwide, realizada em abril, consultou representantes de 168 companhias nacionais e multinacionais, de diversos portes e segmentos, com atuação no Brasil. Entre as empresas que oferecem um EAP, 59% são multinacionais (26% delas, com capital norte-americano). A maior parte (22%) tem entre 1.001 e 2 mil empregados. Entre os atendimentos, a maior parte refere-se a problemas como dependência química, distúrbios psicológicos e problemas no trabalho (todas as opções com 91%), questões familiares e estresse (84%) e assessoria financeira (82%).

Em metade dos casos (50%), o EAP é administrado pela própria companhia. Já em 46% dos programas - como é o caso da Comgás - o serviço é executado por empresas terceirizadas.

Embora o objetivo das companhias, ao oferecer esse tipo de programa, não seja demitir os funcionários com algum problema pessoal, algumas das questões atendidas nos EAPs, quando não-tratadas devidamente, são a razão de inúmeras dispensas.

Conforme dados da edição 2007 da pesquisa "A Contratação, a Demissão e a Carreira dos Executivos Brasileiros", realizada pelo Grupo Catho junto a 12.122 profissionais de empresas privadas de todo o País, o uso de álcool (1,16%) e de drogas (0,41%) está entre as primeiras razões para a demissão de executivos no País. Além disso, conforme o mesmo levantamento, a objeção para a contratação de fumantes é muito grande. Para os cargos de presidentes e diretores, chega a 81,34%. Nos processos seletivos para a contratação de gerentes e supervisores, é de 81,16%.


Fonte: Por Marcelo Monteiro, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1

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