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Mercados sustentáveis ganham força nos Estados Unidos

Anúncios de metas de redução das emissões de gases causadores do efeito estufa, iniciativas de neutralização de carbono, investimentos em tecnologias mais limpas e energias renováveis. Essas são algumas medidas anunciadas pelas companhias em resposta a complexos desafios como o aquecimento global. Mas essas ações tem sido suficientes para causar impactos positivos no meio ambiente e promover as mudanças necessárias para evitar ou postergar o colapso, cujos sinais são mais que perceptíveis? Eis um dos questionamentos do relatório “O estado dos negócios verdes”, divulgado recentemente pela GreenBiz.

Um dos maiores portais especializados em sustentabilidade dos Estados Unidos, o GreenBiz analisou mais de 1000 notícias publicadas nos sites do grupo em busca de tendências e movimentos com o intuito de avaliar o movimento dos negócios sustentáveis.

Dessa análise surgiu o índice GreenBiz, que será atualizado anualmente. “Tivemos dificuldade em calcular o impacto da oscilação nas práticas de negócios verdes, pois em muitos casos, as informações disponíveis eram de dois anos atrás ou os dados que buscávamos eram recentes demais para indicar tendências. Por isso, estabelecemos 20 indicadores de performance ambiental e a partir deles medimos o progresso, alcançado ou não, pelas empresas norte-americanas na promoção de negócios verdes”, afirma Joel Makower, editor-executivo da GreenBiz na introdução do relatório.

O grupo uma nomenclatura peculiar para avaliar o estado das empresas na promoção dos negócios verdes. Para cada um dos indicadores de performance ambiental há um ícone indicando se as empresas estão progredindo (“nadando”), perdendo o chão (“afundando”) ou suportando elas mesmas (“navegando”).

Além de fazer esse prognóstico, o estudo identificou 10 temas que tiveram destaque no ano de 2007 (veja relação completa no box abaixo).

Muitas das questões levantadas pelo relatório também podem ser percebidas no Brasil. “Assim como nos Estados Unidos, verifica-se a ascensão de produtos relacionados às questões socioambientais. Grandes empresas têm adaptado sua estratégia de negócios para desenvolver soluções com essas características. O movimento dos bancos também é perceptível, ao aderirem aos Princípios do Equador, por exemplo”, afirma Marco Antonio Fujihara, consultor do Instituto Totum.

No entanto, para o especialista, algumas questões são muito particulares à economia norte-americana. “O Brasil não tem obrigação de reduzir metas de emissões de gases causadores de efeito estufa pelo Protocolo de Kyoto, portanto essa ainda não é uma realidade factível para as empresas brasileiras”, ressalta Fujihara.

Ainda assim, defende que a sustentabilidade é uma questão substancial para a perenidade das empresas. Sendo assim, as companhias que pretendem manter-se no mercado podem e devem se antecipar às tendências.

Segundo ele, o movimento das empresas automobilísticas por tecnologias mais limpas, por exemplo, é uma tendência que pode chegar ao Brasil. “Mais cedo ou mais tarde as companhias brasileiras terão de se adaptar a essa realidade, pois muitas de suas matrizes estão nos Estados Unidos”, afirma o consultor.

Confira a seguir um resumo dos indicadores definidos pela GreenBiz para avaliar o atual momento dos negócios verdes nos Estados Unidos.

Construindo o uso da energia
Os edifícios de hoje - ícones da arquitetura moderna – usam 16% a mais de energia por metro quadrado do que aqueles que foram construídos há um quarto de século atrás.

Mas os edifícios são, ao mesmo tempo, problema e solução. E 2007 pode ser considerado o ano em que as construções sustentáveis se tornaram o alicerce da estratégia global para estabilizar o aquecimento do planeta. Por uma simples razão, os edifícios são responsáveis por 40% das emissões de gases de efeito-estufa no mundo, segundo relatório recentemente divulgado pela Organização das Nações Unidas.

Diante disso, arquitetos, designers, entre outros profissionais desenvolveram métodos para construção de edifícios residenciais e comercias que gerem tanta energia quanto precisam utilizar e melhorem a saúde e produtividade do trabalhador, tudo isso enquanto ajudam estabelecer a imagem das grandes corporações.

Os edifícios com eficiência de energia também são resultado do aprimoramento da tecnologia e projetos planejados como sistemas, ao invés de serem construídos como peças separadas. Junto a esses dois aspectos, também existe um terceiro fator: o crescimento do LEED (U.S. Green Building Council’s Leadership in Energy and Environmental Design).

O índice GreenBiz avalia como “navegando” o estado das empresas em relação às construções sustentáveis, mas vê um crescimento estável e em grande escala no longo prazo.

No mundo, existem mais de mil construções certificadas de acordo com os requisitos do LEED. No Brasil, há apenas um empreendimento certificado até o momento. No entanto, outras 47 construções estão seguindo o mesmo exemplo para assegurar a sustentabilidade de seus processos.

Comércio de carbono
A meta comum dos mercados de carbono é conseguir tabelar as emissões de gases de efeito-estufa, permitindo às empresas comprar e vender para compensar suas emissões e igualar a capacidade estabelecida em muitos países desenvolvidos. Em 2007, o comércio de emissões contribuiu para reduzir 88 milhões de toneladas de dióxido de carbono, segundo a New Carbon Finance, organização britânica que fornece análises sobre o mercado de carbono.

O relatório do GreenBiz classifica esse resultado como um mero ponto de luz em meio ao universo, mas algo que representa um começo. A avaliação para o progresso do comércio de carbono é “navegando” que ainda cresce lentamente nos Estados Unidos.

Investimentos em tecnologia limpa
Segundo o relatório da GreenBiz, investimentos em tecnologia limpa são indicadores líderes para o progresso econômico, que se move em direção a uma economia mais limpa e verde. Governos, corporações e capitais de risco investiram um total de 48.28 bilhões em tecnologia limpa no ano de 2006, um aumento de 13% sobre 2005.

Em uma escala global, os Estados Unidos lideraram as patentes de tecnologias limpas durante o ano de 2006, com 46% dos registros, seguidos por Ásia e Oceano Pacífico, com 30%. A Europa ficou em terceiro lugar, com 18%, de acordo com a Lux Research.

Nos EUA, 38% foram para tecnologias relacionadas à sustentabilidade focadas em água e ar, assim como e tecnologias para evitar o desperdício. Esses números seguem uma tendência de crescimento contínuo. Patentes de tecnologias limpas têm crescido em média 5% por ano desde 1995. Parte desse crescimento foi influenciado por decisões governamentais, como as patentes de biodisel adquiridas nos últimos anos. O maior número de patentes de energia limpa está relacionado com inovações nas células de combustíveis, que alcançaram 572 patentes em 2006.

O relatório avalia como “nadando” o estado dos investimentos em tecnologias limpas, mas aponta um crescimento estável dessa prática, especialmente, no capital de risco.

Relatórios corporativos
O GreenBiz ressalta que a percepção em relação aos relatórios corporativos passaram do estado de “bom ser feito” para “precisa ser feito”. Para muitos setores, já não é mais suficiente apenas publicar um relatório. Acionistas têm pressionado as empresas a comunicarem seus resultados de acordo com as diretrizes do Global Reporting Initiative (GRI).

No entanto, na avaliação do GreenBiz essa prática não tem crescido lentamente, por isso a classificam como “navegando”. Nos Estados Unidos, o número de relatórios continua relativamente baixo: apenas 253 empresas emitiram o documento em 2007.

No cenário global, os resultados são melhores, como ressalta o consultor Ricardo Volotilini. “O número de empresas que elabora relatórios de sustentabilidade cresce em todo o mundo. Há nove anos, apenas 20 empresas utilizavam as diretrizes do Global Reporting Initiative.

Hoje, são 1,5 mil. A cada dia se percebe um cuidado maior com o aspecto metodológico dos relatórios, com a clareza e consistência das informações e com a integração dos dados de performance socioambiental com a estratégia dos negócios", afirma Ricardo Voltolini, diretor da consutoria Idéia Sustentável.

Entre as tendências apontadas pelo consultor estão a busca por formatos mais criativos e interativos, os painéis de stekaholders, as auditorias externas e o uso dos relatórios também por parte de governos e organizações da sociedade civil.

Transporte do trabalhador
O relatório do GreenBiz sinaliza uma mudança no comportamento dos norte-americanos em relação ao transporte. Desde a Segunda Guerra Mundial, a tendência dominante tem sido marcada pelos motoristas solitários.

A entrada das mulheres no mercado de trabalho, as altas taxas de natalidade, a maior disponibilidade de carros, assim como a migração de casas e locais de trabalho para os subúrbios são alguns dos fatores que reforçaram essa tendência.

Os índices de aluguel de carros também decaíram desde o começo dos anos 80, quando aproximadamente 20% dos trabalhadores iam para o trabalho em grupos. O modelo entrou em colapso devido à valorização do tempo no mercado de trabalho.
Porém, a permanência do preço alto da gasolina fez o transporte público renascer. Em 2007, os americanos registraram uma média de 50 milhões de viagens em transporte público a mais, em comparação com os anos anteriores.

O índice GreeBiz identifica como uma tendência a retomada dos modos coletivos de transporte, mas classifica como “navegando” o estado dessa prática, sem muitas possibilidades de crescimento.

Eficiência energética
Desde 1950, o uso de energia, medido por dólares do PIB, caiu mais de 75%. O uso de energia agregado é o mesmo de 1968, embora a economia seja três vezes maior atualmente. Muitos esforços das empresas para diminuir a energia consumida por produtos e processo estão relacionados com as novas tendências da economia. Por exemplo, a produtora de iogurtes Stonyfield Farm reduziu seu consumo de energia e emissões de carbono associadas ao produto em um terço na última década.

O relatório classifica como “nadando” o estado das empresas em relação a melhoria da eficiência energética.

Sistemas de administração ambiental
O crescimento dos sistemas para administração ambiental tem se mostrado lento, porém contínuo, segundo relatório da GreenBiz. Em todo o mundo, as empresas buscam certificações ambientais como o ISO 14001 para diminuir os impactos ambientais provocados por suas atividades e atestar a boa cidadania corporativa. Os Estados Unidos continuam na 7ª posição no ranking dos 10 países com maior quantidade de certificados do ISO 14001, com cerca de 5585 certificações.

O índice do GreenBiz classifica como “navegando” o estado das empresas norte-americanas nessa área.

Uso de energia renovável
A geração de energia renovável cresceu de 81 bilhões de horas/megawatt em 2000, para 96 bilhões em 2006, de acordo com o departamento de energia dos Estados Unidos. No entanto, essa modalidade representa pouco mais de 2% do total de geração de eletricidade, quase a mesma porcentagem de 1995. A razão óbvia: o consumo da eletricidade cresceu tanto quanto o uso de renováveis, exigindo mais fábricas de combustíveis fósseis poderosas.

O índice GreenBiz classifica como “navegando” o progresso das empresas em relação ao uso de energias renováveis. Mas ressalta que, os ganhos nessa área foram compensados pelo aumento do consumo de energia.


Fonte: Gazeta Mercantil

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