Pense globalmente, aja localmente. A máxima tão em voga há alguns anos continua a acompanhar a vida dos profissionais que fazem parte do mundo globalizado, por meio de um nocivo efeito colateral. Depois da abertura dos mercados e do advento de países emergentes, como a China, o mundo do trabalho transformou-se radicalmente, trazendo em seu bojo a tão temida solidão corporativa. Ela assombra executivos impiedosamente, pois se tornou cada dia mais difícil contar com o colega ou confiar nos integrantes de um grupo constituído em torno de um mesmo projeto.
Com ingredientes culturais múltiplos e inúmeros sotaques, a concorrência fez com que as organizações passassem a entoar, em uníssono, o mantra do "mais com menos", na tentativa de cooptar seus funcionários a defenderem a lucratividade a qualquer custo. Novas ferramentas tecnológicas foram arregimentadas, com o intuito de imprimir maior velocidade na corrida rumo aos resultados com um número cada vez maior de dígitos.
Reduzir quadros virou rotina, e os que permanecem são obrigados a trabalhar mais horas, em princípio para perseguir essas metas inatingíveis, depois porque acabaram se acostumando ao frenético ritmo profissional. E se antes a disputa era concentrada principalmente entre empresas, agora está personificada no colega que senta na mesa ao lado, visto que qualquer coisa que seja dita poderá ser usada contra aquele que falou.
É natural que, dentro deste panorama, a convivência profissional tenha perdido espaço e significado, dando lugar a um ambiente inóspito, onde a possibilidade da criação de vínculos pessoais é pequena.
A busca desenfreada pela otimização gerou distorções bizarras, como a procura por estagiários com experiência ou a expressão "retenção de talentos". Na prática, essa pressão emocional tem prejudicado e muito o sentimento de "fazer parte" de uma empresa, visto que no lugar do coleguismo, respeito e solidariedade instauraram-se outros parâmetros duvidosos e - por que não dizer - equivocados de convivência. As empresas precisam, de fato, cortar custos e aumentar a lucratividade na busca da sobrevivência? E o preço que vem sendo pago pessoalmente pelos seus profissionais?
Se, antigamente, era possível identificar as pessoas que estavam atrás de suas "personas" e estabelecer com elas relações duradouras, hoje é bastante comum que elas se vistam e sejam como não são, num processo que as consome diariamente e não deixa nenhum espaço para manifestações do ser.
Não por acaso essa situação dissociada do que seria a ideal desencadeia uma série de distúrbios emocionais. Na prática, os profissionais têm enfrentado dificuldades de se conectarem com outras realidades que não sejam essas em que o resultado do mês, do trimestre ou do quadrimestre vira a principal razão da existência, quando deveria ser apenas uma parte da vida. Por outro lado, essas pessoas costumam contar com inúmeras oportunidades para o aperfeiçoamento profissional, acumulando um conteúdo que preferem guardar para si próprias, com medo de se abrirem com seus colegas.
É fato: as organizações estão empobrecendo, pois não existe mais a troca intelectual. O ócio criativo passa ao largo da realidade desses profissionais que sobem e descem do avião e nem se dão conta em que país se encontram, passando a reproduzir modelos já desgastados de gerenciamento.
A solidão corporativa é uma questão grave e deve ser olhada de frente pelos dirigentes corporativos, sob pena de colocar a perder não apenas a produtividade e as margens de lucratividade, mas de imobilizar os recursos humanos responsáveis por perseguir os tão almejados resultados positivos.
Fonte: Por Maria Lucia Pettinelli, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 11
Com ingredientes culturais múltiplos e inúmeros sotaques, a concorrência fez com que as organizações passassem a entoar, em uníssono, o mantra do "mais com menos", na tentativa de cooptar seus funcionários a defenderem a lucratividade a qualquer custo. Novas ferramentas tecnológicas foram arregimentadas, com o intuito de imprimir maior velocidade na corrida rumo aos resultados com um número cada vez maior de dígitos.
Reduzir quadros virou rotina, e os que permanecem são obrigados a trabalhar mais horas, em princípio para perseguir essas metas inatingíveis, depois porque acabaram se acostumando ao frenético ritmo profissional. E se antes a disputa era concentrada principalmente entre empresas, agora está personificada no colega que senta na mesa ao lado, visto que qualquer coisa que seja dita poderá ser usada contra aquele que falou.
É natural que, dentro deste panorama, a convivência profissional tenha perdido espaço e significado, dando lugar a um ambiente inóspito, onde a possibilidade da criação de vínculos pessoais é pequena.
A busca desenfreada pela otimização gerou distorções bizarras, como a procura por estagiários com experiência ou a expressão "retenção de talentos". Na prática, essa pressão emocional tem prejudicado e muito o sentimento de "fazer parte" de uma empresa, visto que no lugar do coleguismo, respeito e solidariedade instauraram-se outros parâmetros duvidosos e - por que não dizer - equivocados de convivência. As empresas precisam, de fato, cortar custos e aumentar a lucratividade na busca da sobrevivência? E o preço que vem sendo pago pessoalmente pelos seus profissionais?
Se, antigamente, era possível identificar as pessoas que estavam atrás de suas "personas" e estabelecer com elas relações duradouras, hoje é bastante comum que elas se vistam e sejam como não são, num processo que as consome diariamente e não deixa nenhum espaço para manifestações do ser.
Não por acaso essa situação dissociada do que seria a ideal desencadeia uma série de distúrbios emocionais. Na prática, os profissionais têm enfrentado dificuldades de se conectarem com outras realidades que não sejam essas em que o resultado do mês, do trimestre ou do quadrimestre vira a principal razão da existência, quando deveria ser apenas uma parte da vida. Por outro lado, essas pessoas costumam contar com inúmeras oportunidades para o aperfeiçoamento profissional, acumulando um conteúdo que preferem guardar para si próprias, com medo de se abrirem com seus colegas.
É fato: as organizações estão empobrecendo, pois não existe mais a troca intelectual. O ócio criativo passa ao largo da realidade desses profissionais que sobem e descem do avião e nem se dão conta em que país se encontram, passando a reproduzir modelos já desgastados de gerenciamento.
A solidão corporativa é uma questão grave e deve ser olhada de frente pelos dirigentes corporativos, sob pena de colocar a perder não apenas a produtividade e as margens de lucratividade, mas de imobilizar os recursos humanos responsáveis por perseguir os tão almejados resultados positivos.
Fonte: Por Maria Lucia Pettinelli, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 11
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