Um terço dos e-mails enviados a esta coluna revela o desejo dos leitores por informações que os auxiliem a identificar as empresas sustentáveis e as que dizem ser mas, na verdade, não são. À parte os que acionam o colunista atrás de respostas polêmicas, a maioria o faz para conhecer melhor as corporações e, assim, usar o seu poder de compra, premiando as primeiras e punindo as segundas.
Entre os engajados leitores, há aqueles que solicitam rankings das mais e das menos sustentáveis e os que mencionam nomes de empresas em busca de uma nota para o seu comportamento socioambiental. Não são poucos, no entanto, os que querem apenas melhorar o seu repertório de critérios para fazerem o seu próprio julgamento. A eles, especialmente, se presta este artigo.
Boa experiência no tema associada a uma certa rodagem pelo mundo corporativo permite-nos arriscar uma breve e didática classificação. Em relação à sustentabilidade, as empresas podem ser divididas em quatro categorias: as líderes, as esforçadas, as cínicas e as indiferentes.
As líderes, como o próprio nome sugere, estão à frente das demais. Não apenas porque caminharam mais, e de modo mais rápido, mas porque aceitaram, com maior convicção, o desafio das mudanças de processos, modelos e estratégias de negócio imposto ao longo da jornada da sustentabilidade. E eles não são poucos, nem simples. Pioneiras, iniciaram-se há pelo menos 10 anos, quando o tema era quase uma licença poética, um gesto altruísta mais do que uma nova lógica de gestão. Abriram uma picada em mato denso, tentando convencer os acionistas e os stakeholders de que não deixariam de ser lucrativas por assumirem, com fé, os seus papéis socioambientais.
As empresas líderes cumpriram uma trajetória mais ou menos comum. Primeiro, fizeram investimento social privado, ajudando a promover o desenvolvimento de comunidades. Depois, implantaram práticas de responsabilidade social em toda a sua cadeia produtiva, passando a considerar, eticamente, na gestão do negócio, os impactos de suas atividades sobre os diferentes públicos de interesse. E, há pouco, adotaram o triple bottom line como mote para pensar e fazer negócios, encarando a sustentabilidade não mais a partir da óptica do risco, mas da oportunidade. Nelas, encontra-se sempre um líder inspirador e apaixonado pelo tema. As suas crenças são firmes, os compromissos, claros. Para elas, sustentabilidade significa inovação.
As esforçadas seguem o rastro das líderes. Mas o fazem em ritmo mais lento, não tão linear, com avanços e retrocessos. Seja porque demoraram um pouco mais a pegar a estrada sustentável, seja porque encontram-se em negócios muito complexos (nos quais as mudanças de modelo constituem desafios difíceis de superar no curto prazo) ainda estão às voltas com os dilemas decorrentes da implantação de práticas de responsabilidade social. Como nas líderes, pode-se perceber nelas cuidados específicos com ações de ética e transparência, engajamento de fornecedores, preservação de meio ambiente, respeito a direitos humanos e diálogo com comunidades. No entanto, apesar de consistentes, essas práticas, dissociadas da estratégia, ainda não foram suficientes para mudar modelos de negócios. Falta-lhes, sobretudo, liderança mais compromissada, crenças mais sólidas, priorização ao tema e cultura organizacional receptiva às mudanças.
As cínicas são as que se dizem sustentáveis apenas por conveniência. A rigor, não fazem nenhum esforço para serem sustentáveis. Sequer sabem o que isso significa. Da porta para fora, adotam um discurso altruísta. Da porta para dentro, seguem aferradas ao velho modelo mental do lucro a qualquer custo e do retorno ao acionista como o único compromisso. No fundo, acham a sustentabilidade um conceito ingênuo, uma filosofice incompatível com negócios, um custo extra que vai lhe tirar competitividade. Obtusas, crêem, de fato, no falso dilema de que não é possível ser rentável e sustentável ao mesmo tempo. Para elas, responsabilidade social é ter investimento social, um projeto comunitário simpático, pequeno e barato.
Ninguém precisa se dar ao trabalho de distinguir as indiferentes na multidão. Até porque elas não querem ser reconhecidas como sustentáveis. Não possuem crenças nem práticas socioambientais. Seus líderes estão muito ocupados com seus próprios problemas para pensar em comunidades, meio ambiente, ética, governança e desenvolvimento social. Assim como as cínicas, as indiferentes também acham o tema aleatório. A diferença é que não fazem nenhuma questão de parecerem interessadas nele. São, simplesmente, indiferentes.
Em resumo, discurso e prática andam juntos nas líderes. Entre as esforçadas, o discurso segue um pouco à frente da prática. Nas cínicas, muito discurso e nada de prática. E nas indiferentes, nem discurso nem prática.
Uma bom jeito de reconhecer as categorias é analisar a história do tema em cada empresa, sua evolução, o modo como os líderes o defendem e como se insere no seu jeito de pensar e fazer negócios.
Fonte: Por Ricardo Voltolini, in www.ideiasocioambiental.com.br
Entre os engajados leitores, há aqueles que solicitam rankings das mais e das menos sustentáveis e os que mencionam nomes de empresas em busca de uma nota para o seu comportamento socioambiental. Não são poucos, no entanto, os que querem apenas melhorar o seu repertório de critérios para fazerem o seu próprio julgamento. A eles, especialmente, se presta este artigo.
Boa experiência no tema associada a uma certa rodagem pelo mundo corporativo permite-nos arriscar uma breve e didática classificação. Em relação à sustentabilidade, as empresas podem ser divididas em quatro categorias: as líderes, as esforçadas, as cínicas e as indiferentes.
As líderes, como o próprio nome sugere, estão à frente das demais. Não apenas porque caminharam mais, e de modo mais rápido, mas porque aceitaram, com maior convicção, o desafio das mudanças de processos, modelos e estratégias de negócio imposto ao longo da jornada da sustentabilidade. E eles não são poucos, nem simples. Pioneiras, iniciaram-se há pelo menos 10 anos, quando o tema era quase uma licença poética, um gesto altruísta mais do que uma nova lógica de gestão. Abriram uma picada em mato denso, tentando convencer os acionistas e os stakeholders de que não deixariam de ser lucrativas por assumirem, com fé, os seus papéis socioambientais.
As empresas líderes cumpriram uma trajetória mais ou menos comum. Primeiro, fizeram investimento social privado, ajudando a promover o desenvolvimento de comunidades. Depois, implantaram práticas de responsabilidade social em toda a sua cadeia produtiva, passando a considerar, eticamente, na gestão do negócio, os impactos de suas atividades sobre os diferentes públicos de interesse. E, há pouco, adotaram o triple bottom line como mote para pensar e fazer negócios, encarando a sustentabilidade não mais a partir da óptica do risco, mas da oportunidade. Nelas, encontra-se sempre um líder inspirador e apaixonado pelo tema. As suas crenças são firmes, os compromissos, claros. Para elas, sustentabilidade significa inovação.
As esforçadas seguem o rastro das líderes. Mas o fazem em ritmo mais lento, não tão linear, com avanços e retrocessos. Seja porque demoraram um pouco mais a pegar a estrada sustentável, seja porque encontram-se em negócios muito complexos (nos quais as mudanças de modelo constituem desafios difíceis de superar no curto prazo) ainda estão às voltas com os dilemas decorrentes da implantação de práticas de responsabilidade social. Como nas líderes, pode-se perceber nelas cuidados específicos com ações de ética e transparência, engajamento de fornecedores, preservação de meio ambiente, respeito a direitos humanos e diálogo com comunidades. No entanto, apesar de consistentes, essas práticas, dissociadas da estratégia, ainda não foram suficientes para mudar modelos de negócios. Falta-lhes, sobretudo, liderança mais compromissada, crenças mais sólidas, priorização ao tema e cultura organizacional receptiva às mudanças.
As cínicas são as que se dizem sustentáveis apenas por conveniência. A rigor, não fazem nenhum esforço para serem sustentáveis. Sequer sabem o que isso significa. Da porta para fora, adotam um discurso altruísta. Da porta para dentro, seguem aferradas ao velho modelo mental do lucro a qualquer custo e do retorno ao acionista como o único compromisso. No fundo, acham a sustentabilidade um conceito ingênuo, uma filosofice incompatível com negócios, um custo extra que vai lhe tirar competitividade. Obtusas, crêem, de fato, no falso dilema de que não é possível ser rentável e sustentável ao mesmo tempo. Para elas, responsabilidade social é ter investimento social, um projeto comunitário simpático, pequeno e barato.
Ninguém precisa se dar ao trabalho de distinguir as indiferentes na multidão. Até porque elas não querem ser reconhecidas como sustentáveis. Não possuem crenças nem práticas socioambientais. Seus líderes estão muito ocupados com seus próprios problemas para pensar em comunidades, meio ambiente, ética, governança e desenvolvimento social. Assim como as cínicas, as indiferentes também acham o tema aleatório. A diferença é que não fazem nenhuma questão de parecerem interessadas nele. São, simplesmente, indiferentes.
Em resumo, discurso e prática andam juntos nas líderes. Entre as esforçadas, o discurso segue um pouco à frente da prática. Nas cínicas, muito discurso e nada de prática. E nas indiferentes, nem discurso nem prática.
Uma bom jeito de reconhecer as categorias é analisar a história do tema em cada empresa, sua evolução, o modo como os líderes o defendem e como se insere no seu jeito de pensar e fazer negócios.
Fonte: Por Ricardo Voltolini, in www.ideiasocioambiental.com.br
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