A cada ano, os relatórios de sustentabilidade adquirem maior importância na comunicação das empresas, contribuindo para gerar credibilidade entre os públicos de interesse a partir da divulgação dos compromissos e das práticas de responsabilidade social das empresas. Esta é uma das conclusões extraídas de dois estudos recentemente divulgados pela CorporateRegister.com, um portal fundado em 1998, que promove a adoção de relatórios corporativos sustentáveis, disponibilizando gratuitamente aos usuários mais de 16.000 documentos.
No Global Winners & Reporting Trends (Vencedores Globais e Tendências em Relatórios), o portal avaliou os melhores relatórios publicados em 2007, destacando os mais bem elaborados e indicando as perspectivas para o futuro. Números do estudo não deixam nenhuma dúvida quanto à evolução do interesse pela divulgação de dados intangíveis nos negócios. Em 1992, foram publicados apenas 27 relatórios de sustentabilidade. Em 2007, as empresas produziram 2.500 documentos, em resposta a uma valorização, por parte do mercado, do report do chamado triple bottom line, o equilíbrio entre os resultados econômico-financeiros, os ambientais e os sociais.
Além de premiar os melhores, o Global Winners & Reporting Trends apontou algumas tendências claras nos relatórios avaliados. Em sua análise, nos últimos 15 anos, houve uma evolução importante nos conteúdos desses documentos, que pode ser atribuída a vários fatores, entre os quais a ascensão do uso das versões G2 e G3 do Global Reporting Initiative (GRI). Essas diretrizes não só auxiliam na identificação de questões potenciais como facilitam a localização e a comparação de dados. Dos 2.500 relatórios elaborados em 2007, 32% seguiram os padrões GRI. A mesma tendência está se manifestando no Brasil. “Precisamos estabelecer um novo nível de diálogo com o mundo, de uma forma mais transparente. As diretrizes representam um ótimo instrumento para isso devido ao seu reconhecimento mundial”, reforça Gláucia Térreo, coordenadora das atividades do GRI no Brasil.
Apesar de a publicação de relatórios corporativos estar em fase inicial na América do Sul, a região apresenta a maior taxa de relatórios baseados nas diretrizes do GRI. “Até arrisco a dizer que os números brasileiros influenciam essa conclusão. Aqui, temos uma quantidade bem expressiva de relatórios, o que credito ao histórico de atuação de diversas ONGs. Há um caminho aberto de conscientização e de conhecimento técnico”, afirma Gláucia.
Outra tendência apontada pelo estudo é a ascensão dos relatórios online, que oferecem um acesso mais eficaz e consistente a documentos com grande volume de dados. No entanto, os documentos impressos ainda são os mais usuais: apenas 14% das empresas disponibilizaram uma versão para a internet no último ano.
Segundo o Global Winners & Reporting Trends, houve também um aumento considerável no tamanho dos relatórios. Há 15 anos, eles não passavam de 30 páginas. Hoje possuem, em média, 55. Ao longo desse período, foi notável ainda uma transição gradual dos primeiros documentos, que abordavam quase sempre um tema, para os atuais multi-temáticos, mais abrangentes e com uma descrição mais integrada das ações de diversas áreas corporativas. Na opinião dos públicos de interesse, no entanto, apresentar mais informações não significa necessariamente maior qualidade no relato. Em meio à massa de dados, alguns não tão relevantes para uma compreensão dos compromissos, o foco pode acabar prejudicado. Não por acaso, um dos principais desafios consiste em destacar, de forma compreensível, as informações que realmente fazem diferença.
Uma tendência observada nos documentos, particularmente os produzidos na Europa, é a integração entre balanço financeiro e responsabilidade social corporativa. “Isso deve deixar de ser tendência para ser "default", pois ajudará as organizações a pensarem na sustentabilidade de forma estratégica e integrada”, afirma Gláucia. Um relatório integrado - defende o estudo - consolida o papel da comunicação dentro de uma empresa, fornecendo um panorama geral dos negócios. Na opinião dos públicos de interesse, alguns pontos são essenciais para avaliar um bom relatório, principalmente aqueles relacionados a conteúdo, comunicação, comprometimento e possibilidade de comparação de dados. Gláucia concorda com a importância desses itens. Mas, em sua análise, engajamento e materialidade são elementos-chave para que funcionem todos os outros pontos.
Empresas vencedoras
Para a realização do CR Reporting Awards (Premiação de Relatórios do Corporate Register), o Global Winners & Reporting Trends avaliou 300 empresas em nove categorias, a partir da análise de documentos em seus arquivos (confira os vencedores no box).
Ainda não existe uma resposta absoluta a respeito dos melhores critérios para a elaboração de um documento eficiente e esclarecedor, mas segundo os usuários do Portal que votaram – acadêmicos, diretores financeiros, especialistas, entre outros – um fator importante é que as empresas saibam comunicar de forma clara os aspectos sustentáveis mais relevantes.
O prêmio de melhor relatório ficou com o Vodafone Group Plc, seguido pela ABN Amro Holding NV. Das empresas concorrentes, 80 marcaram pontuação zero. Na categoria de “Melhor Relatório Integrado”, os promotores procuraram distinguir as empresas que melhor agregaram aspectos financeiros e não-financeiros. Por enxergar as novas tendências sustentáveis do seu mercado, incorporando-as ao negócio, a Novo Nordisk A/S ganhou o primeiro posto.
Na categoria “Melhor divulgação das emissões de carbono” foram avaliados dados, metas, quantidade e políticas desenvolvidas por corporações emissoras de poluentes. Nesse quesito, a número 1 foi a BMW AG. Nomes como a Sony Corporation, a Shell e a Bayer também obtiveram boas colocações, integrando a lista das dez empresas que revelam suas emissões com maior clareza, expressando as implicações de suas atividades nas mudanças climáticas e as medidas que têm sido tomadas para a redução dos riscos.
Na categoria “Criatividade na Comunicação”, a Coca-cola se destacou, segundo o estudo, por conseguir elaborar um relatório de sustentabilidade eficiente e agradável de ler. Segundo os usuários do Portal, a empresa teve o cuidado de combinar informações relevantes, formato bem elaborado, texto leve e compreensível. Como ponto negativo, o CR Reporting Awards identificou muitos documentos que não apenas exageram no volume de material informativo, como apresentam conteúdo vago e pouco relevante.
Já a categoria “Relevância e Materialidade” destacou os relatórios que revelam, de forma sucinta, riscos e oportunidades. A BP Plc, primeira colocada, apresentou diversas ferramentas virtuais para facilitar o acesso a informações relacionadas à suas ações sustentáveis. Segundo Gláucia, a coordenadora do GRI no Brasil, a materialidade continua a ser um dos pontos mais frágeis na elaboração dos relatórios de ações socioambientais.
Segundo o estudo, as empresas se mostram, muitas vezes, receosas em revelar toda a verdade que envolve os impactos de seus negócios, preferindo valorizar as notícias boas e ignorar as ruins. Sem se ater à qualidade da performance, mas ao modo como a corporação expõe, com clareza e equilíbrio, as boas e más notícias, o prêmio instituiu uma categoria sugestivamente denominada “Franqueza e Honestidade”. A empresa vencedora foi a Bayer AG, porque, segundo os votantes, transmitiu confiança e imparcialidade, esclarecendo os fatos sem querer influenciar a percepção do leitor.
Uma perspectiva mais segura
O segundo estudo elaborado pela CorporateRegister.com, chamado Assure View (Visão Segura), revela uma tendência em alta entre os relatórios corporativos sustentáveis. É a das auditorias externas. Empresas especializadas nesse tipo de serviço são contratadas para analisar processos e emitir uma espécie de “certificado de credibilidade”, garantindo a maior confiabilidade das informações. I
Quem normalmente fornece a certificação de garantia é uma organização independente, que possui capacidade e conhecimento para a tarefa. Uma certificação completa e detalhada contribui para padronizar o relatório, adicionar um valor de garantia e suprir a demanda por relatórios imparciais hoje desejados pelos públicos de interesse cada vez mais exigentes. Além disso, permite identificar boas práticas que devem ser reforçadas e eventuais áreas de risco que precisam ser repensadas. Geralmente, os problemas mais evidentes estão associados aos sistemas de gestão, relação de dados, conteúdo e propostas.
“No Brasil, todas as empresas estão formatando áreas para oferecer esse serviço de auditoria em sustentabilidade. Creio que estamos numa curva de aprendizado, pois também vejo cartas de recomendações de auditoria com abstenções e escopos limitados. Acredito que todos temos muito a aprender ainda”, ressalta Gláucia.
Segundo o Assure View, na medida em que os relatórios alcançaram os negócios no mainstream, a certificação se estabeleceu como um dos principais indicadores de qualidade, consolidando o mercado de provedores na última década. Os três segmentos líderes em auditorias – contabilistas, entidades certificadoras e consultorias especializadas - movimentaram um mercado que cresceu, entre 1997 e 2007, de 65% para 89%.
Fonte: Gazeta Mercantil
No Global Winners & Reporting Trends (Vencedores Globais e Tendências em Relatórios), o portal avaliou os melhores relatórios publicados em 2007, destacando os mais bem elaborados e indicando as perspectivas para o futuro. Números do estudo não deixam nenhuma dúvida quanto à evolução do interesse pela divulgação de dados intangíveis nos negócios. Em 1992, foram publicados apenas 27 relatórios de sustentabilidade. Em 2007, as empresas produziram 2.500 documentos, em resposta a uma valorização, por parte do mercado, do report do chamado triple bottom line, o equilíbrio entre os resultados econômico-financeiros, os ambientais e os sociais.
Além de premiar os melhores, o Global Winners & Reporting Trends apontou algumas tendências claras nos relatórios avaliados. Em sua análise, nos últimos 15 anos, houve uma evolução importante nos conteúdos desses documentos, que pode ser atribuída a vários fatores, entre os quais a ascensão do uso das versões G2 e G3 do Global Reporting Initiative (GRI). Essas diretrizes não só auxiliam na identificação de questões potenciais como facilitam a localização e a comparação de dados. Dos 2.500 relatórios elaborados em 2007, 32% seguiram os padrões GRI. A mesma tendência está se manifestando no Brasil. “Precisamos estabelecer um novo nível de diálogo com o mundo, de uma forma mais transparente. As diretrizes representam um ótimo instrumento para isso devido ao seu reconhecimento mundial”, reforça Gláucia Térreo, coordenadora das atividades do GRI no Brasil.
Apesar de a publicação de relatórios corporativos estar em fase inicial na América do Sul, a região apresenta a maior taxa de relatórios baseados nas diretrizes do GRI. “Até arrisco a dizer que os números brasileiros influenciam essa conclusão. Aqui, temos uma quantidade bem expressiva de relatórios, o que credito ao histórico de atuação de diversas ONGs. Há um caminho aberto de conscientização e de conhecimento técnico”, afirma Gláucia.
Outra tendência apontada pelo estudo é a ascensão dos relatórios online, que oferecem um acesso mais eficaz e consistente a documentos com grande volume de dados. No entanto, os documentos impressos ainda são os mais usuais: apenas 14% das empresas disponibilizaram uma versão para a internet no último ano.
Segundo o Global Winners & Reporting Trends, houve também um aumento considerável no tamanho dos relatórios. Há 15 anos, eles não passavam de 30 páginas. Hoje possuem, em média, 55. Ao longo desse período, foi notável ainda uma transição gradual dos primeiros documentos, que abordavam quase sempre um tema, para os atuais multi-temáticos, mais abrangentes e com uma descrição mais integrada das ações de diversas áreas corporativas. Na opinião dos públicos de interesse, no entanto, apresentar mais informações não significa necessariamente maior qualidade no relato. Em meio à massa de dados, alguns não tão relevantes para uma compreensão dos compromissos, o foco pode acabar prejudicado. Não por acaso, um dos principais desafios consiste em destacar, de forma compreensível, as informações que realmente fazem diferença.
Uma tendência observada nos documentos, particularmente os produzidos na Europa, é a integração entre balanço financeiro e responsabilidade social corporativa. “Isso deve deixar de ser tendência para ser "default", pois ajudará as organizações a pensarem na sustentabilidade de forma estratégica e integrada”, afirma Gláucia. Um relatório integrado - defende o estudo - consolida o papel da comunicação dentro de uma empresa, fornecendo um panorama geral dos negócios. Na opinião dos públicos de interesse, alguns pontos são essenciais para avaliar um bom relatório, principalmente aqueles relacionados a conteúdo, comunicação, comprometimento e possibilidade de comparação de dados. Gláucia concorda com a importância desses itens. Mas, em sua análise, engajamento e materialidade são elementos-chave para que funcionem todos os outros pontos.
Empresas vencedoras
Para a realização do CR Reporting Awards (Premiação de Relatórios do Corporate Register), o Global Winners & Reporting Trends avaliou 300 empresas em nove categorias, a partir da análise de documentos em seus arquivos (confira os vencedores no box).
Ainda não existe uma resposta absoluta a respeito dos melhores critérios para a elaboração de um documento eficiente e esclarecedor, mas segundo os usuários do Portal que votaram – acadêmicos, diretores financeiros, especialistas, entre outros – um fator importante é que as empresas saibam comunicar de forma clara os aspectos sustentáveis mais relevantes.
O prêmio de melhor relatório ficou com o Vodafone Group Plc, seguido pela ABN Amro Holding NV. Das empresas concorrentes, 80 marcaram pontuação zero. Na categoria de “Melhor Relatório Integrado”, os promotores procuraram distinguir as empresas que melhor agregaram aspectos financeiros e não-financeiros. Por enxergar as novas tendências sustentáveis do seu mercado, incorporando-as ao negócio, a Novo Nordisk A/S ganhou o primeiro posto.
Na categoria “Melhor divulgação das emissões de carbono” foram avaliados dados, metas, quantidade e políticas desenvolvidas por corporações emissoras de poluentes. Nesse quesito, a número 1 foi a BMW AG. Nomes como a Sony Corporation, a Shell e a Bayer também obtiveram boas colocações, integrando a lista das dez empresas que revelam suas emissões com maior clareza, expressando as implicações de suas atividades nas mudanças climáticas e as medidas que têm sido tomadas para a redução dos riscos.
Na categoria “Criatividade na Comunicação”, a Coca-cola se destacou, segundo o estudo, por conseguir elaborar um relatório de sustentabilidade eficiente e agradável de ler. Segundo os usuários do Portal, a empresa teve o cuidado de combinar informações relevantes, formato bem elaborado, texto leve e compreensível. Como ponto negativo, o CR Reporting Awards identificou muitos documentos que não apenas exageram no volume de material informativo, como apresentam conteúdo vago e pouco relevante.
Já a categoria “Relevância e Materialidade” destacou os relatórios que revelam, de forma sucinta, riscos e oportunidades. A BP Plc, primeira colocada, apresentou diversas ferramentas virtuais para facilitar o acesso a informações relacionadas à suas ações sustentáveis. Segundo Gláucia, a coordenadora do GRI no Brasil, a materialidade continua a ser um dos pontos mais frágeis na elaboração dos relatórios de ações socioambientais.
Segundo o estudo, as empresas se mostram, muitas vezes, receosas em revelar toda a verdade que envolve os impactos de seus negócios, preferindo valorizar as notícias boas e ignorar as ruins. Sem se ater à qualidade da performance, mas ao modo como a corporação expõe, com clareza e equilíbrio, as boas e más notícias, o prêmio instituiu uma categoria sugestivamente denominada “Franqueza e Honestidade”. A empresa vencedora foi a Bayer AG, porque, segundo os votantes, transmitiu confiança e imparcialidade, esclarecendo os fatos sem querer influenciar a percepção do leitor.
Uma perspectiva mais segura
O segundo estudo elaborado pela CorporateRegister.com, chamado Assure View (Visão Segura), revela uma tendência em alta entre os relatórios corporativos sustentáveis. É a das auditorias externas. Empresas especializadas nesse tipo de serviço são contratadas para analisar processos e emitir uma espécie de “certificado de credibilidade”, garantindo a maior confiabilidade das informações. I
Quem normalmente fornece a certificação de garantia é uma organização independente, que possui capacidade e conhecimento para a tarefa. Uma certificação completa e detalhada contribui para padronizar o relatório, adicionar um valor de garantia e suprir a demanda por relatórios imparciais hoje desejados pelos públicos de interesse cada vez mais exigentes. Além disso, permite identificar boas práticas que devem ser reforçadas e eventuais áreas de risco que precisam ser repensadas. Geralmente, os problemas mais evidentes estão associados aos sistemas de gestão, relação de dados, conteúdo e propostas.
“No Brasil, todas as empresas estão formatando áreas para oferecer esse serviço de auditoria em sustentabilidade. Creio que estamos numa curva de aprendizado, pois também vejo cartas de recomendações de auditoria com abstenções e escopos limitados. Acredito que todos temos muito a aprender ainda”, ressalta Gláucia.
Segundo o Assure View, na medida em que os relatórios alcançaram os negócios no mainstream, a certificação se estabeleceu como um dos principais indicadores de qualidade, consolidando o mercado de provedores na última década. Os três segmentos líderes em auditorias – contabilistas, entidades certificadoras e consultorias especializadas - movimentaram um mercado que cresceu, entre 1997 e 2007, de 65% para 89%.
Fonte: Gazeta Mercantil
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