Pular para o conteúdo principal

O lado sombrio da elitista Harvard

O jornalista inglês Philip Delves Broughton decidiu, em 2004, abandonar a profissão. Chefe do escritório em Paris do The Daily Telegraph, estava cansado da rotina estressante do jornal e disposto a virar um homem de negócios. Resolveu se inscrever na Harvard Business School e, para sua surpresa, foi aprovado. Ele conta o que aconteceu, durante os dois anos de MBA, no recém-lançado Ahead of the Curve (“Na dianteira”). É um retrato um tanto sombrio da escola, que completa 100 anos neste mês.

A instituição orgulha-se de formar líderes globais e, como é sabido, cumpre a tarefa com louvor, como bem lembrou o reitor Kim Clark ao se apresentar à turma de Broughton. “A primeira vez que entrei nesta sala para dar aula, havia um rapaz sentado naquela cadeira chamado Jack. Agora ele é Jack Brennan, líder do grupo Vanguard. Logo ali ficava Jeff, um ex-jogador de futebol americano. Jeff Immelt é agora CEO da GE...”, e continuou a listar as celebridades para quem havia dado aula. Mas, afirma Brou-ghton, a escola não é apenas uma fábrica de líderes. É principalmente uma “fábrica de gente triste”. Na sua opinião, a Harvard Business School ajuda a difundir a crença de que a dedicação absoluta ao trabalho é a única alternativa para os profissionais mais talentosos. Lembra de um diretor do Goldman Sachs que deu uma palestra sobre liderança: “Sua expressão de derrota era evi-dente quando contou que havia se casado quatro vezes”.

Para Broughton, a escola precisa repensar o seu lema: “nós instruímos líderes que fazem a diferença no mundo”. Seria me-lhor, na sua opinião, que prometesse somente educar profissionais para a administração de um negócio, o que ajudaria a reduzir a megalomania de alunos e professores. Broughton é bastante crítico em relação aos colegas que ingressaram em 2004. Uma tur-ma formada em boa parte por “três Ms” – mórmons, militares e profissionais da McKinsey – e por representantes de países asiáti-cos e sul-americanos, muitos dos quais prepotentes e ambiciosos.

Broughton abandona o tom crítico quando fala do rigor técnico da escola. Tece elogios ao seu método de ensino, baseado principalmente na análise de “casos” – situações reais do mundo dos negócios. Em dois anos de MBA estudou mais de 500 casos, alguns dos quais comenta no livro. Também discorre com entusiasmo sobre como superou sua ignorância em negócios. Ao entrar na escola não sabia sequer mexer num Excel, o que é compreensível dado seus interesses anteriores – é formado em filosofia, latim e grego. Apesar das novas habilidades, Broughton não conseguiu arranjar um emprego que preservasse sua rela-ção com a mulher e os dois filhos. Desistiu de uma vaga no Google por esse motivo. Decidiu então voltar à escrita e lançar Ahe-ad of the Curve.

MBA – Sigla da expressão em inglês Master of Business Administration (mestrado em administração de empresas).Apesar do nome, não é reconhecido no Brasil como um curso de mestrado, mas como uma especialização.


Fonte: epocanegocios.globo.com

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Conselho Federal de Marketing?

A falta de regulamentação da profissão de marketing está gerando um verdadeiro furdunço na Bahia. O consultor de marketing André Saback diz estar sendo perseguido por membros do Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA/BA) por liderar uma associação – com nome de Conselho Federal de Marketing e que ainda não está registrada – cujo objetivo, segundo ele, é regulamentar a profissão. O CRA responde dizendo que Saback está praticando estelionato e que as medidas tomadas visam a defender os profissionais de administração. Enquanto André Saback, formado em marketing pela FIB - Centro Universitário da Bahia -, diz militar pela regulamentação da profissão, o Presidente do CRA/BA, Roberto Ibrahim Uehbe, afirma que o profissional criou uma associação clandestina, está emitindo carteirinhas, cobrando taxas e que foi cobrado pelo Conselho Federal de Administração por medidas que passam até por processar Saback, que diz ter recebido dois telefonemas anônimos na última semana em tom de ameaç