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Liderança: Decisões impopulares requerem apoio político, clareza e assertividade

Demissões, corte de custos, reestruturação de equipes, terceirização, troca de fornecedores. Na crise, os líderes são testados diariamente. Precisam tomar decisões difíceis e muitas vezes impopulares para adaptar as empresas à nova realidade, além de garantir a sobrevivência e bom funcionamento dos negócios. E são pagos para isso. "Ter coragem para desagradar quando necessário faz parte do papel de um líder", afirma Betania Tanure, pesquisadora da PUC Minas e da Fundação Dom Cabral.

De acordo com ela, embora tenham de desenvolver e estimular os colaboradores, os gestores também precisarão tomar atitudes duras de vez em quando. "É fundamental, porém, manter o senso de justiça nesses momentos. Assim, mesmo na dor, será possível gerar e cultivar a confiança entre os colaboradores", ressalta.

Na opinião de Robert Hooijberg, professor de comportamento organizacional da escola de negócios suíça IMD, o segredo é mostrar que as decisões contrárias aos interesses de determinados grupos são, na verdade, estratégicas beneficiarão a companhia de uma forma geral. "Os verdadeiros líderes são os que incentivam o diálogo e o debate para colher e por em prática as melhores ideias, sejam elas populares ou não."

Para os especialistas em liderança e carreira, no mundo globalizado e cada vez mais competitivo em que vivemos não há espaço para profissionais que adotam a postura de ficar "em cima do muro". "Ou você decide ou decidem por você", diz Karin Parodi, sócia-fundadora da Career Center, empresa de gestão de RH. Segundo ela, o gestor que foge das decisões com medo de ser penalizado por errar acaba sendo da mesma maneira, mas por se omitir. Não é por isso, entretanto, que o profissional deve agir de forma impulsiva. "Tudo depende do timing da empresa, da urgência do projeto, dos valores envolvidos e das pessoas que serão afetadas. O líder deve fazer essa leitura do ambiente e ponderar se há necessidade de consultar outras pessoas ou coletar mais informações antes de tomar sua decisão", explica.

O coordenador dos MBA executivo e internacional da Fundação Instituto de Administração (FIA), James Wright, diz que líderes com perfil mais democrático e agregador, que considera todos os pontos de vista antes de decidir, evolui de maneira mais lenta na carreira. "O gestor que toma decisões rápidas, sem esperar o consenso, passa a imagem de que é mais assertivo para o grupo que o apoia. Para galgar postos mais altos em uma empresa é fundamental ter objetividade e agressividade", afirma. Para Wright, esse não é o perfil da maioria dos executivos brasileiros. "Os profissionais aqui tendem a fazer acordos, coligações e adotar uma postura mais coletivista."

O coordenador ressalta, no entanto, que tomar medidas impopulares sem o devido suporte interno pode significar o "suicídio" deste profissional. "Ele tem que ter habilidade política para convencer as pessoas de que está fazendo o certo. O líder bem sucedido, mesmo tomando decisões impopulares, ganha espaço e prestígio na organização."

O especialista em comportamento organizacional Alberto Ruggiero alerta que desenvolver uma boa política dentro da empresa, porém, não pode ser confundido com politicagem. "Profissionais que querem estar bem com todos e evitar conflitos são, na verdade, antilíderes. As empresas e equipes sob sua responsabilidade serão seguidoras e nunca inovadoras", garante. Ruggiero diz que um gestor com esse perfil até pode chegar a um cargo de liderança, mas nunca será um líder de fato. "Ele trocará membros da equipe periodicamente tentando achar culpados por seu rendimento pífio. Sem confiança e nem engajamento, os colaboradores acabam saindo da empresa ou pedindo transferência por conta própria", diz.

Na opinião de Francisco Ramirez, sócio da ARC Executive Talent Recruiting, quem não gosta de assumir riscos e busca uma espécie de blindagem na carreira deve atuar no setor público. "No mundo corporativo você precisa competir. Ousadia e firmeza são atitudes esperadas em um líder."

A sócia da A2Z Consultores Gladys Zrncevich concorda que na média gerência não há mais espaço para gestores que não tenham na cabeça um processo claro de tomada de decisão. No caso de presidentes e CEOs, contudo, é preciso levar em conta que este processo não é tão simples como pode parecer para quem está olhando de fora. "Cada contexto exige um tipo de liderança. Há empresas mais políticas e outras mais objetivas. O tomador de decisão concilia interesses diversos da matriz, do conselho, dos acionistas e dos colaboradores. O perfil do líder, portanto, deve combinar com o da empresa", afirma.

O sócio-fundador da Panelli Motta Cabrera, Antônio Motta Carvalho, diz que o líder que sabe comandar e mostra uma postura clara para a equipe ganha credibilidade. "Ele será respeitado mesmo nas decisões mais duras, desde que seja leal e transmita confiança. Os funcionários a princípio podem até não gostar, mas vão entender aquela atitude e apoiá-lo."

Adiar ou fugir das decisões também pode indicar falta de preparo e insegurança por parte do gestor. Se esse for o caso, o conselho dos especialistas é "mergulhar no processo de autoconhecimento". "É preciso entender os motivos desse medo de assumir riscos e criar, a partir daí, uma forma de superá-lo", afirma Betania Tanure. Ruggiero diz que com orientação, treinamento e feedback, é possível alinhar as expectativas e perfis entre o profissional e a empresa. "O líder não tem que ser nem bonzinho nem malvado. Tem que fazer o deve ser feito."


Fonte: Por Por Rafael Sigollo e Stela Campos, in Valor Econômico

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