Dificilmente se pode pensar um fenômeno social da atualidade com clareza, geralmente a visão afastada, em tempo ou espaço de um fenômeno confere a analise maior grau de maturidade. Como então analisar as comunidades existentes dentro das redes sociais cibernéticas contemporâneas? Impossível afastar-se espacialmente de um fato social mundial em sua essência. Também é impossível afastar-se temporalmente pelo caráter atual já mencionado. Sendo assim, valer-nos-emos de uma analogia própria para o estudo do papel destes grupos dentro das teias sociais.
Comparar as comunidades de redes como o Orkut e o Facebook com a Ágora grega parece ser uma forma de pensar estas comunidades de forma histórica. Tomando as redes sociais como sociedades, ainda que virtuais, as comunidades se colocariam assim em posição semelhante à da ágora para os helenos. A Ágora era o local onde se assegurava um dos pilares fundamentais da filosofia política republicana, a isonomia, que é a igualdade no poder de comunicar. Isonomia é o direito do qual cada cidadão gozava de poder falar e ser ouvido. Era uma “praça” em que os indivíduos se reuniam, por espontânea vontade, para discutir temas, tomar decisões, enfim exercer o seu papel de efetivamente construir a sociedade clássica.
As comunidades virtuais podem ser pensadas como um avanço ainda maior à isonomia grega, já que, nas redes sociais, todo e qualquer indivíduo é considerado “cidadão” e, como se sabe, na democracia helênica este conceito era restrito (aos escravos e estrangeiros, por exemplo, não era conferido esse “privilégio”). Pensar então o papel da comunidade nas redes sociais fica mais claro, pois elas têm função absolutamente fundante.
As redes são produto e produtor destas inter-relações entre indivíduos virtuais. Os indivíduos formam as comunidades, se agrupam nelas, determinam os temas a serem debatidos e produzem conhecimento de forma conjunta, simultaneamente, as comunidades das quais o sujeito virtual participa lhe conferem certa “identidade”, assumem assim função produtiva sobre eles. Pierre Lévy afirma em seu livro A Inteligência Coletiva “boa parte da nossa inteligência cognitiva consiste em nos localizar em meio à multiplicidade de ‘mundos’ diferentes entre os quais navegamos. Devemos descobrir rapidamente a topologia e a axiologia dos novos espaços a que somos levados a participar, não confundir os sistemas de valores, apreciarem a evolução das situações”. Lévy constata ainda que “passamos nosso tempo a modificar e administrar os espaços em que vivemos, a conectá-los, a separá-los, a articulá-los, a endurecê-los, a neles introduzir novos objetos, a deslocar as intensidades que os estruturam, a saltar de um espaço a outro.”
É essencial, entretanto, pensar no poder criativo e agregador destas comunidades. Citando Pierre Lévy quando trata da cartografia antropológica, “se esse método servir para separar, classificar ou isolar deve ser imediatamente abandonado”. Dessa maneira, as comunidades, se forem elementos de segregação, estão agindo ou sendo utilizadas de forma desvirtuada e devem ser classificadas como exceções.
Grande estudioso da filologia clássica (professor da Universidade de Leipzig nesta mesma matéria), não por acaso, o filósofo Friedrich Nietzsche foi precursor de uma filosofia propriamente perspectivista. Quanto ao perspectivismo, podemos afirmar que é uma proposição de grande contribuição acerca da construção do saber. Para Nietzsche, por não existir uma verdade absoluta, o conhecimento é construído passo a passo a partir de diferentes relações entre o sujeito e o objeto, ou seja, dependendo do olhar que o sujeito incida sobre o objeto, um novo “saber” será compreendido por este. Tal saber deverá ser confrontado com outras visões daquele objeto, construindo-se assim um grau mais próximo de verdade, mas que nunca será absoluta em si.
Ora, nada mais perspectivista que comunidades em que indivíduos se agrupam sem hierarquia para debater temas escolhidos por eles próprios. A sociedade dos “especialistas”, dos mestres, cai por terra nas redes sociais. Indivíduos entram em comunidades conforme seu interesse, se comunicam, debatem, formam um conhecimento conjunto e se apropriam dele cada um de forma própria.
Entender os grupos nas redes sociais e participar deles é, assim, chave para entender e atuar na formação da sociedade em si. Este mesmo artigo, escrito apenas por um indivíduo permeado de subjetividades e escolhas, com certeza se modificaria sendo posto à discussão em uma comunidade. As visões se intercalariam, confrontariam, apoiariam e o texto sairia completamente diferente. Sendo desta forma, é e sempre será completamente discutível.
Fonte: Por Letícia Mazon, in www.mundodomarketing.com.br
Comparar as comunidades de redes como o Orkut e o Facebook com a Ágora grega parece ser uma forma de pensar estas comunidades de forma histórica. Tomando as redes sociais como sociedades, ainda que virtuais, as comunidades se colocariam assim em posição semelhante à da ágora para os helenos. A Ágora era o local onde se assegurava um dos pilares fundamentais da filosofia política republicana, a isonomia, que é a igualdade no poder de comunicar. Isonomia é o direito do qual cada cidadão gozava de poder falar e ser ouvido. Era uma “praça” em que os indivíduos se reuniam, por espontânea vontade, para discutir temas, tomar decisões, enfim exercer o seu papel de efetivamente construir a sociedade clássica.
As comunidades virtuais podem ser pensadas como um avanço ainda maior à isonomia grega, já que, nas redes sociais, todo e qualquer indivíduo é considerado “cidadão” e, como se sabe, na democracia helênica este conceito era restrito (aos escravos e estrangeiros, por exemplo, não era conferido esse “privilégio”). Pensar então o papel da comunidade nas redes sociais fica mais claro, pois elas têm função absolutamente fundante.
As redes são produto e produtor destas inter-relações entre indivíduos virtuais. Os indivíduos formam as comunidades, se agrupam nelas, determinam os temas a serem debatidos e produzem conhecimento de forma conjunta, simultaneamente, as comunidades das quais o sujeito virtual participa lhe conferem certa “identidade”, assumem assim função produtiva sobre eles. Pierre Lévy afirma em seu livro A Inteligência Coletiva “boa parte da nossa inteligência cognitiva consiste em nos localizar em meio à multiplicidade de ‘mundos’ diferentes entre os quais navegamos. Devemos descobrir rapidamente a topologia e a axiologia dos novos espaços a que somos levados a participar, não confundir os sistemas de valores, apreciarem a evolução das situações”. Lévy constata ainda que “passamos nosso tempo a modificar e administrar os espaços em que vivemos, a conectá-los, a separá-los, a articulá-los, a endurecê-los, a neles introduzir novos objetos, a deslocar as intensidades que os estruturam, a saltar de um espaço a outro.”
É essencial, entretanto, pensar no poder criativo e agregador destas comunidades. Citando Pierre Lévy quando trata da cartografia antropológica, “se esse método servir para separar, classificar ou isolar deve ser imediatamente abandonado”. Dessa maneira, as comunidades, se forem elementos de segregação, estão agindo ou sendo utilizadas de forma desvirtuada e devem ser classificadas como exceções.
Grande estudioso da filologia clássica (professor da Universidade de Leipzig nesta mesma matéria), não por acaso, o filósofo Friedrich Nietzsche foi precursor de uma filosofia propriamente perspectivista. Quanto ao perspectivismo, podemos afirmar que é uma proposição de grande contribuição acerca da construção do saber. Para Nietzsche, por não existir uma verdade absoluta, o conhecimento é construído passo a passo a partir de diferentes relações entre o sujeito e o objeto, ou seja, dependendo do olhar que o sujeito incida sobre o objeto, um novo “saber” será compreendido por este. Tal saber deverá ser confrontado com outras visões daquele objeto, construindo-se assim um grau mais próximo de verdade, mas que nunca será absoluta em si.
Ora, nada mais perspectivista que comunidades em que indivíduos se agrupam sem hierarquia para debater temas escolhidos por eles próprios. A sociedade dos “especialistas”, dos mestres, cai por terra nas redes sociais. Indivíduos entram em comunidades conforme seu interesse, se comunicam, debatem, formam um conhecimento conjunto e se apropriam dele cada um de forma própria.
Entender os grupos nas redes sociais e participar deles é, assim, chave para entender e atuar na formação da sociedade em si. Este mesmo artigo, escrito apenas por um indivíduo permeado de subjetividades e escolhas, com certeza se modificaria sendo posto à discussão em uma comunidade. As visões se intercalariam, confrontariam, apoiariam e o texto sairia completamente diferente. Sendo desta forma, é e sempre será completamente discutível.
Fonte: Por Letícia Mazon, in www.mundodomarketing.com.br
Comentários