Pular para o conteúdo principal

Cliente interno: a diferença fundamental

Existem profissionais histéricos na busca por novos clientes e pelo encantamento dos clientes atuais. Desesperados na busca por mais e mais novos clientes, precisam pensar na próxima ação bombástica para reaver os clientes perdidos para a concorrência, se preocupam com a nova campanha de marketing e querem atingir maiores patamares de venda e lucratividade.

Existem aqueles profissionais que se dedicam a desvendar os meandros da alma do cliente, no intuito de servi-lo e, obviamente, ganhar com isso. Porém, poucos profissionais se dedicam efetivamente a cuidar do “sangue e dos músculos” da empresa. Estou me referindo aos colaboradores ou clientes internos.

Por muitos anos, o olhar dos profissionais e dirigentes recaiu sobre as ações que deveriam ser realizadas no chão de fábrica. O mercado mudou e, obviamente, a lógica do jogo também. Nesse novo cenário, muitas empresas descobriram que precisam ter os dois olhos no mercado.

Mas, infelizmente ou felizmente, o mercado mudou novamente e, hoje, “em casa de ferreiro o espeto tem de ser de ferro e não mais de pau”. Tão importante quanto o cliente externo (aquele que vem comprar conosco) é o cliente interno (aquele para o qual temos de “vender” idéias). O mais interessante é que é muito fácil cobrar, reclamar, repreender, parecendo tão distante e difícil de ver ações efetivas de empresas que apóiam, incentivam e auxiliam o crescimento pessoal daqueles que dedicam grande parte das suas vidas à empresa. Em última instância, os dirigentes e empresários são responsáveis diretos pela qualidade do trabalho dos seus colaboradores. Portanto, a falha de um colaborador evidencia a falha dos
responsáveis pela empresa. Se quem estiver dentro da empresa não comprar a “idéia” não serão os de fora que o farão.

Uma pesquisa que realizei com 238 colaboradores de 63 empresas evidenciou alguns dados interessantes:

» 73% sentem falta de um canal efetivo de comunicação, ou seja, em muitas situações não sabem para onde a empresa quer ir, desconhecem suas políticas de premiação e
crescimento, não fazem idéia do que realmente a empresa prioriza ou valoriza e o mais
preocupante: nem mesmo sabem o que a empresa espera deles.
» 92% confessaram já terem ficado constrangidos perante um cliente em razão de não
saber das condições de uma promoção que a empresa estava realizando; e uma boa parcela, 14%, passaram pela situação de descobrir por terceiros (vizinhos, amigos, familiares ou mesmo clientes).
» 87% sentem falta de alguém que os procure para saber sua opinião sobre a inclusão ou exclusão de algum novo produto ou se teriam dúvidas a respeito de algum processo ou procedimento na empresa.
» 97% disseram que teriam vontade de colaborar com opiniões a respeito das estratégias da empresa, mas que nunca tiveram a oportunidade formal ou informal de ajudar.
» Existe uma frase muito interessante que diz: “Ninguém é tão grande que não possa
aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar”. Excluir os colaboradores das decisões da empresa e depois lhes pedir que se empenhem em vender algo em que não acreditam ou de que não foram convencidos é, no mínimo, um paradoxo. Muitas empresas cometem a barbaridade de tratar seus colaboradores – nesse caso, “empregados” – como extensões de máquinas, como males necessários ou como pessoas que não têm capacidade de contribuir com idéias e sugestões. Não há como pedir para a equipe se empenhar mais se ela própria, muitas vezes, não concorda com a forma como as coisas – política de preços, promoções, assistência técnica – são feitas. A moça da limpeza leva uma bronca por um banheiro sujo, mas ninguém foi lá conversar com ela e explicar a importância do seu trabalho. A balconista atende de cara amarrada e é despedida, mas ninguém nunca disse a ela que, por melhor que seja o produto, ele não vende por si só, que a atenção ao cliente é tão importante quanto o produto ou serviço que o consumidor está levando. Ninguém foi conversar com o entregador
e explicar que, se ele não cumprir os horários corretamente, o cliente pode não vir a fazer mais negócios com a empresa e que, por conseqüência, menos dinheiro entra, menos trabalho há e, por fim, menos competitiva se torna a empresa e mais difícil é se manter no mercado.

Em uma época em que a busca pela preferência do cliente é disputada palmo a palmo,
relegar o fator humano a um segundo plano é loucura. Cada vez mais se fala em valorizar a pessoa, mas na prática ainda existem poucas ações e, em sua maioria, isoladas. São comuns as demonstrações de que a figura do “empregado” ainda existe. Por “empregado” entenda aquela pessoa que é paga para trabalhar oito horas por dia, receber seu salário no final do mês, que recebe ordens e não pode opinar, que, se tem dúvidas vai ficar com elas e, principalmente, que se errar vai levar uma bronca tremenda e, ainda pior, receber ameaça de demissão.

Depois de todo esse tratamento, os dirigentes e empresários ainda se queixam por não
saberem os motivos da falta de motivação e empenho dos seus “colaboradores”, que não
entendem os motivos da falta de comprometimento. É claro que existem colaboradores que não apresentam o menor interesse, mas isso não é desculpa para não fazer algo a respeito.

Ficam alguns conselhos de ordem prática para aqueles que se interessam em alterar seu
ambiente de trabalho e melhorar o relacionamento entre as pessoas:

» As pessoas guardam sentimentos e ressentimentos, não esquecem tão facilmente aquela
bronca, aquele desaforo ou injustiça ao qual foram submetidas. Portanto, tenha cuidado ao repreender alguém e, principalmente, cuide do seu tom de voz e das palavras que profere.
» Pergunte, questione, peça sugestões. As pessoas, quando se sentem peças importantes de algo, tendem a ajudar. Não esqueça, essa ajuda vem de graça, a maioria quer apenas se sentir parte da construção de algo.
» Tenha cuidado com o excesso de sinceridade, pois muitos têm o chamado “pavio curto” e “explodem” com facilidade. E após a raiva passar, volta a conversar com as pessoas atingidas como se nada houvesse acontecido. Cuidado, as pessoas são diferentes dos cães, que após levarem um chute, voltam a abanar o rabo como se nada houvesse acontecido.
» Tenha um meio organizado de comunicar tudo o que acontece na empresa. Se você não
tem tempo ou hábito, delegue a função a outra pessoa que possa realizá-la. Afinal, em todos os dias existem novidades. Quanto aos seus colaboradores, quanto mais informados, melhor poderão responder aos desafios do dia-a-dia.
» Para finalizar, antes de cobrar algo, verifique se realmente as condições de
desenvolvimento foram dadas. Cobrar é fácil, auxiliar a crescer “são outros quinhentos”.


Fonte: Por Fábio Violin, in www.endeavor.org.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Conselho Federal de Marketing?

A falta de regulamentação da profissão de marketing está gerando um verdadeiro furdunço na Bahia. O consultor de marketing André Saback diz estar sendo perseguido por membros do Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA/BA) por liderar uma associação – com nome de Conselho Federal de Marketing e que ainda não está registrada – cujo objetivo, segundo ele, é regulamentar a profissão. O CRA responde dizendo que Saback está praticando estelionato e que as medidas tomadas visam a defender os profissionais de administração. Enquanto André Saback, formado em marketing pela FIB - Centro Universitário da Bahia -, diz militar pela regulamentação da profissão, o Presidente do CRA/BA, Roberto Ibrahim Uehbe, afirma que o profissional criou uma associação clandestina, está emitindo carteirinhas, cobrando taxas e que foi cobrado pelo Conselho Federal de Administração por medidas que passam até por processar Saback, que diz ter recebido dois telefonemas anônimos na última semana em tom de ameaç