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A Síndrome de Donald e os padecimentos do faz-tudo

Donald é o típico faz-tudo. De vez em quando, ao lado do primo Peninha, atua como repórter no jornal A Patada. Noutras ocasiões, figura como ajudante nas aventuras de caça ao tesouro empreendidas por Tio Patinhas. Não raro, assume mais atividades, atacando até mesmo de super-herói, por meio de seu alter ego, o Superpato.
Pode-se dizer que Donald é versátil. No entanto, também é legítimo afirmar que seja um sujeito sem foco. Até mesmo na vida pessoal, parece um sujeito sem rumo. Desperdiça energia na infindável contenda com o vizinho Silva. Ao mesmo tempo, é incapaz de estabelecer uma relação sólida com a bela Margarida, frequentemente seduzida pelo sortudo e frívolo Gastão.

Na verdade, o irritado Donald é um pato antropomorfizado. Mistura características da simpática ave e dos seres humanos. Afinal, um pato faz de tudo. Nada, anda e voa. Mas realiza tudo isso sem muita qualidade.

Dependendo da espécie, pode nadar pior do que uma tartaruga, andar desajeitado como um gato perneta e voar tão estabanadamente quanto uma galinha.

Mas o que o ilustre habitante de Patópolis tem a ver com o universo das organizações e de seus gestores e colaboradores?

Simplesmente, tudo!

Em minhas andanças pelo Brasil e pelo mundo, topo frequentemente com pessoas versáteis que reclamam do destino. Fazem muito de tudo, mas seus negócios não prosperam. Outras reclamam que suas carreiras estão empacadas. Falta-lhes já entusiasmo, ao passo que sobra frustração...

Ora, depois de analisar essas histórias, muitas vezes descubro que esses indivíduos, alguns competentes e até talentosos, carecem de foco.
José não sabe se investe na fábrica de escovas de dentes, na criação de gado ou na carreira de ator. Maria não se decide entre a Fisioterapia, cujo curso concluiu há dois anos, a fabricação de doces caseiros e o emprego de vendedora na joalheria do shopping da região.

Curiosamente, a sociedade tende a valorizar esse tipo de multifuncionalidade. Essas pessoas são identificadas com trabalhadeiras e esforçadas.
Certamente que são, como milhões e milhões de brasileiros, praticantes da boa versão do jeitinho.

Muitas dessas experiências, no entanto, exibem ausência de foco. Maria poderia se tornar uma ótima fisioterapeuta, uma próspera empresária do setor alimentício ou uma gerente bem remunerada na joalheria. Infelizmente, não sabe o que quer e tem medo de decidir...

Primeiramente, a má notícia: Maria está acometida da Síndrome de Donald... (Você, caro leitor, não estará padecendo da mesma enfermidade?)

Agora, a boa nova: existe cura. E a terapia se divide basicamente em cinco atitudes.
1. “Conhece-te a ti mesmo”, como sugeria o filósofo grego Sócrates. Descubra seus talentos e identifique seus sonhos.
2. Depois, ofereça a si mesmo a indagação: o que desejo para mim e para o meu negócio?
3. Analise o mercado e a conjuntura econômica e determine a viabilidade de seus planos.
4. Procure descobrir seu diferencial em relação aos demais. Afinal, o que você faz muito bem? O que você faz bem que os outros não fazem?
5. Defina um plano de voo. Estabeleça uma estratégia para trilhar o caminho entre o que você é e aquilo que pretende se tornar.

A receita é simples, mas exige dedicação. Avalie seu conhecimento da atividade escolhida, meça sua energia e verifique seus meios antes de fixar metas. Alcançar o sucesso dependerá de um bom inventário de suas competências e recursos.
Possivelmente, você encontrará falhas em sua formação. Verá que ainda não sabe tudo que deveria saber. Sinal de que precisa investir em reciclagem, treinamento e incremento de qualidade.

Essa regra vale tanto para quem pretende massagear melhor que a concorrência quanto para alguém que pretende lançar escovas de dentes inovadoras.
Poucos atributos no mundo dos negócios são tão importantes quanto o foco. Um empreendedor como o nosso José, que busca sucesso em três frentes simultâneas, tem tanta chance de triunfar quanto um astrônomo que, a bordo de um carro de montanha russa, tentar mirar seu telescópio em Saturno e decifrar os segredos de seus anéis.
Ter foco equivale a negar o Donald que temos dentro de nós. Ter foco equivale a abraçar um grande projeto de cada vez, dispensando a ele toda a energia necessária.
A partir de amanhã, coloque em prática esta lição. Guarde seu pato no armário e busque ajustar o foco de suas atividades. Afinal de contas, a teoria, na prática, funciona!


Fonte: Por Carlos Alberto Júlio - presidente da Tecnisa e membro dos conselhos da HSM e da Camil Alimentos, in HSM Online

Comentários

Ocappuccino.com disse…
Na teoria parece mais simples do que colocar em prática estas lições. Creio que, em quanto se é estudante, ser um Donald é a realidade, pois tratamos com diversas possibilidades, com as quais não sabemos muitas vezes lidar. Foco é essencial em qualquer profissão e o quanto antes deve ser adotado, contudo creio que ele apareça com o amadurecimento profissional.

Abraços,
Mateus d'Ocappccino
Thayse Valéria disse…
Nossa, acabo de perceber que essa sindrome tava me dominando, não que eu não saiba que é preciso foco, mas como dito no texto, o mercado as vezes te obriga a ser um Donald. E isso não é só para estudantes não. Mas vou seguir, ou pelo menos tentar, as dicas que foram dadas.

Fábio, na disciplina que vc nos lecionou, na UFPB, nós fizemos um Plano de Negócios, porém o Make Money que foi baixado ficou no computador de Marcela e agora eu estou pracisando dele. Mas não é mais possivel baixá-lo gratuitamente, voce teria alguma dica pra me dar? Estou precisando do programa.
Oi Thayse, também não tenho mais o Monk Money.

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